23 out 2020 | 17:36:06

José Carlos Fragoso Pires: protagonista da utopia

Da criação e propriedade do PSI à gestão do Jockey Club Brasileiro, José Carlos Fragoso Pires emprestou sua assinatura de feitos que flertaram com o impossível: transformador da atividade.


A notícia do passamento de José Carlos Fragoso Pires vai além da dor da perda comum a seus amigos, familiares e colegas de proximidade. Também se diferencia das notas de luto sobre o falecimento de figuras ilustres do turfe brasileiro, em geral. Trata-se do ponto final inserido numa trajetória que, por diversas vezes, percorreu as raias do impossível – e mostrou, a todos da atividade, que era possível sonhar por um turfe brasileiro, mais forte e reconhecido.

Na década de 1970, Fragoso adquiriu, junto ao Sr. Indemburgo de Lima e Silva (criador do ganhador do GP Brasil, Fenomenal), em Itapuã, o Haras Santa Ana. Ao rebatizar o centro criatório, acrescentando, ao seu final, “do Rio Grande”, talhou o nome de um dos mais vitoriosos centros criatórios do Brasil. Adquirindo, no final da mesma década, parte da Fazenda Mondesir, em Bagé (no negócio, de porteira fechada, acrescentou nomes como os de Waldmeister e Anilité – esta uma potranca de sobreano, à época – ao seu plantel), ingressou no time dos gigantes do turfe nacional.

Refinada, Vida Mansa, Bowling, Bat Masterson, Belle Valley, Byzantine, Cartesiano, Ego Trip, Falcon Jet, Murano, Mensageiro Alado e Super Power. Corredores icônicos que atrelaram Fragoso e sua família a uma rotina de conquistas, nas mais importantes provas do turfe brasileiro. No dorso de boa parte desses animais, a farda da coudelaria foi vestida pelos fabulosos Juvenal Machado da Silva e Jorge Ricardo – sem prejuízo de outros. Nos bastidores, brilhantes profissionais tiveram seus trabalhos fomentados, por Fragoso, ao serem contratados para trato e treinamento de seus animais. Da sapiência de Alcides Morales ao arrojo de João Luis Maciel. Nos cuidados de José Roberto Taranto, um porto seguro.

Quando poderia supor-se que os limites territoriais do país seriam, também, limitantes à saga de seus corredores, vieram Redattore e Riboletta. Esta última, aliás, forjou na cabeça e coração dos criadores brasileiros, a esperança por dias melhores, apesar de todos os pesares: numa façanha quase que utópica, tornou-se o primeiro PSI brasileiro a receber um Eclipse Award – o “Oscar” do turfe norte-americano.

Até hoje vê-se a influência e poderio genético da criação Santa Ana, por meio de diversos outros haras e animais – inclusive no exterior. Da África do Sul ao Japão, difícil seria imaginar o desenvolvimento do cavalo de corrida brasileiro – e seu legado – sem o Haras Santa Ana do Rio Grande e sem Fragoso.

Não bastasse o tempo e investimento dedicados ao turfe, enquanto criador e proprietário, Fragoso também mostrou que era possível dar um passo adiante, no que diz respeito à gestão da atividade. Eleito presidente do Jockey Club Brasileiro, em 1992, teve para si a missão de administrar a entidade – e sua atividade fim – em meio a uma das mais severas crises políticas e financeiras da história do Brasil. E para aqueles que duvidavam da capacidade do JCB – e de Fragoso – não sucumbirem diante de tudo que estava acontecendo, em agosto de 1995 o Jockey Club Brasileiro recebeu seu maior público em décadas, com a realização do Grande Prêmio Brasil que pagou, ao seu ganhador, um prêmio de R$ 1 milhão.

Em sua jornada, acompanhado do filho, José Carlos Fragoso Pires Júnior e do neto, José Carlos Lodi Fragoso Pires, fez-se notável por diversos feitos que lhe colocam em meio aos nossos maiores homens e realizadores.

A exemplo do que ocorre com a farda negra, cruz de Santo André e boné dourados, restam saudades e gratidão, agora também em reverência ao seu idealizador e titular.

A Diretoria da ABCPCC presta condolências à família e amigos enlutados.

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