18 jun 2025 | 16:41:04

O adeus às pistas e uma saudação à dignidade

Anúncio do encerramento da campanha do ganhador do GP Bento Gonçalves, El Cosechero, não significa o rompimento, abrupto, de laços, entre o animal e sua proprietária: vitória da responsabilidade pós-campanha, de lembrança tão necessária, no meio do turfe.


El Cosechero e Fabiane: companheiros antes, durante e após a campanha do corredor.

Imagem: Ricardo Rimoli/JCRS

Nos minutos que antecederam a largada do Clássico Almirante Marquês de Tamandaré, no último domingo, em Porto Alegre, El Cosechero adentrou, pela última vez, à raia do Hipódromo do Cristal. Diferentemente do rito seguido, por ocasião das 23 vezes em que competiu, no Jockey Club do Rio Grande do Sul (sem prejuízo de ter atuado, também, no Uruguail, quando do GP José Pedro Ramirez, há 2 anos), desta feita o canter do animal não seria sucedido, porém, do alinhamento no starting gate, para participar de um páreo.

Aquele canter de El Cosechero significou, na realidade, seu aceno de despedida aos turfistas ali presentes - além de seus torcedores e simpatizantes, que, à distância, acompanhavam a transmissão de seu galope, conduzido pelo jóquei Anthony Renan - piloto habitual do corredor e seu parceiro, quando de suas célebres conquistas. Ganhador, dentre outros páreos, do Grande Prêmio Bento Gonçalves, o filho de Alcorano teve sua aposentadoria decidida, pela criadora e proprietária, Fabiane de Mattos.

A decisão de Fabiane, porém, não foi acompanhada de uma negociação, envolvendo quaisquer valores, pagos por um novo interessado em ver El Cosechero, na defesa de uma outra farda; tampouco importou na transferência do animal a qualquer criador, que possuísse interesse em lhe utilizar na reprodução. Mesmo tendo encerrado sua vida de cavalo atleta, El Cosechero permanecerá sob a guarda de Fabiane, que, agora, dará novos rumos à vida de seu campeão.

"Por se tratar de um macho, tentei oferecê-lo à reprodução, mas não houve retorno. Seria lindo ver os filhos dele correrem, mas, eu, sozinha, não tenho como bancar essa vida. Tenho, sim, porém, não sem esforço, como bancar uma vida leve e feliz para ele. Solto, com os amigos, perto de mim", explica a turfista.

"Ele nasceu no quintal da minha casa... Não tem perigo nesse mundo de eu dar uma vida desconfortável para ele agora".

A opção de Fabiane, em não comercializar o animal a preço vil, ou, então, simplesmente doá-lo, sem, nem mesmo, saber das condições do futuro local de residência de El Cosechero dialoga, perfeitamente, com uma agenda em voga - e de menção extremamente importante -, no turfe mundial: o reaproveitamento de cavalos atletas, após o encerramento de suas carreiras originárias.

Iniciativas que visam a manutenção de um olhar apurado - e responsável - para o cavalo de corrida, mesmo após o encerramento de sua campanha, são fundamentais para tornar a indústria do cavalo mais adequada, atenta a questões de bem-estar-animal, e mais palatável para turfistas de novas gerações. Sobretudo quando, no limiar da campanha de um cavalo de corrida, o encaminhamento dos animais para destinos incógnitos, em que pese representarem saídas mais "fáceis", aos seus proprietários, não representam um movimento adequado à dignidade do animal, muito menos para o destino da própria atividade, que é, cada vez mais, monitorada e "moralmente auditada", em tempo real, mundo afora.

Um dos pilares da atividade, a nível global, a Godolphin desenvolveu um programa de reaproveitamento e destinação responsável, de seus corredores aposentados - que resultou, em 2016, na criação do International Forum for The Aftercare of Racehorses (IFAR). Anualmente, a IFAR realiza uma conferência, que conta com a participação de diversos atores da comunidade equina, e pode ser acompanhada por interessados em qualquer lugar do mundo (clique AQUI para saber mais).

Para El Cosechero, por ora, não se especula sua utilização em outros esportes ou atividades. Porém, há a possibilidade de o castanho de mais de 500 quilos ser utilizado, pela própria Fabiane, como animal de montaria.

"Talvez eu mesma reeduque ele, para poder desfrutar dele enquanto animal de montaria, para passearmos juntos. O El Cosechero é um animal muito manso. Hoje não possuo mais o sítio, mas há lugares, na zona sul de Porto Alegre, em que ele, castrado, pode viver feliz, bem cuidado e sem problemas", informa a criadora - que, na reprodução, conta com a irmã própria de El Cosechero, Flor Amarilla, e com a mãe da tropa, Beatrix (ora prenhe de First Captain); Old Rock'n Roller, de 2 vitórias, em Porto Alegre e figurando como irmão materno da dupla, segue, atualmente, campanha no Uruguai. 

El Cosechero (Alcorano e Beatrix, por Linngari) despediu-se de sua vida de cavalo de corrida com um retrospecto desenvolvido dos 2 aos 7 anos de idade. Presenteou sua criadora, proprietária e, agora, provável parceira de montaria, com 6 primeiros lugares e 5 troféus de páreos da chamada clássica gaúcha.

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