Fascínio, morfologia e cultura pop: os 50 anos de Secretariat.
Um dos mais carismáticos cavalos da história do turfe, alazão norte-americano completaria 50 anos, nesta segunda-feira.
Ícone cuja imagem atravessa gerações, levando fascínio e curiosidade em relação ao mundo das corridas de cavalo, Secretariat completaria, nesta segunda-feira (30), seu 50º aniversário. O corredor norte-americano, que se fez relevante, nas esferas desportiva e social, teve suas patas, corpo e alma envoltos por histórias que fazem dele, até hoje, uma autêntica lenda.
Um cara ou coroa que mudou o curso da história
A história de Secretariat tem um início fantástico, antes mesmo do nascimento do alazão. Desprovida de grande envolvimento com o turfe, Penny Chenery passou a representar seu pai, Christopher Chenery, adoecido, frente aos negócios da família. Dentre os quais, a administração do Meadow Stud, no estado da Virgínia.
No final dos anos 60, Chenery firmou o seguinte acordo com a Família Phipps, proprietária do garanhão Bold Ruler: duas éguas do Meadow Stud seriam enviadas para serem cobertas por Bold Ruler, em 1968 e 1969. Os Phipps teriam direito a reter um produto, por temporada, como pagamento das coberturas do seu destacado reprodutor.
Ficou decidido, por fim, que o primeiro a escolher o produto seria definido no cara ou coroa. No cair da moeda, venceu Ogden Phipps.
O conceituado criador e proprietário, então, escolheu a potranca (The Bride, que em 4 saídas não obteve nenhuma vitória), nascida em 1969, parida pela matriz Somethingroyal (Princequillo). Restou, para Chenery, um macho (Rising River, que também não chegou a vencer) parido por Hasty Matelda (Hasty Road), a segunda égua enviada a Bold Runer, na primeira temporada do negócio.
Pelo acordo, no ano seguinte as produções seriam entregues a Chenery e Phipps, na ordem invertida das reprodutoras. Eis que, em 1970, Somethingroyal pariu Secretariat.
O craque em campanha: tríplice coroa, recordes e números incríveis
Secretariat competiu, para a farda de Meadow Stables, dos 2 aos 3 anos, produzindo 21 saídas das quais 16 foram convertidas em vitórias. Treinado pelo canadense Lucien Laurin, conduzido, na maioria das vezes, por Ron Turcotte e ladeado pelo cavalariço – e melhor amigo – Eddie Sweat, Secretariat tornou-se o nono tríplice coroado da história dos Estados Unidos, sendo o primeiro na segunda metade do século XX.
Em 1972, desenvolveu campanha quase perfeita: foi à raia por 6 vezes, vencendo em 5 delas. Perdeu, apenas (por desclassificação, do primeiro para o segundo posto) o Champagne Stakes. Ao final da temporada, obteve feito raro, em se tratando de um potro de 2 anos: recebeu o Eclipse Award de Cavalo do Ano, bem como de Melhor Potro de 2 anos.
Sem prejuízo do início brilhante, de campanha, aos 3 anos Secretariat colocou a América sob suas patas. Apesar de ter vencido, com firmeza, o Kentucky Derby (G1) e o Preakness Stakes (G1), foi no Belmont Stakes (G1), de 1973, que Secretariat produziu aquela que é considerada, por muitos, a exibição mais impressionante, de um cavalo de corrida, em todos os tempos. Diante de 69 mil pessoas – tendo o páreo sido acompanhada por 15 milhões de lares norte-americanos – Secretariat deixou o segundo colocado, Twice A Prince, a nada menos que 31 corpos de distância. Estabeleceu, também, o recorde mundial dos 2.400 metros, na areia: 2:24.00.
Em Woodbine, no dia 28 de outubro de 1973, Secretariat venceu – na pista de grama – o Canadian International Championship Stakes (G2), em sua despedida das pistas. Foi condecorado, ao final da temporada, pela segunda vez, como Cavalo do Ano, além de obter os títulos de Melhor Potro de 3 anos e Melhor Cavalo em Pista de Grama.
Pai contestado, avô materno brilhante e, ao final de tudo, um coração gigante
Secretariat ingressou na reprodução, em 1974, quando compôs o time de reprodutores da Clairborne Farm, no Kentucky. Ao todo, produziu 663 animais, dos quais 54 (pouco mais de 8%) tornaram-se stakes winners. Dada a grande expectativa, provocada pelo físico exuberante do animal, além de sua formidável campanha e das matrizes – de alto nível – a ele enviadas, sua carreira de garanhão enfrentou grande contestação, no decorrer dos anos. O principal resultado de Secretariat, como pai, foi a vitória na estatística de garanhões dos produtos de 2 anos, em 1978.
Ainda assim, Secretariat não passaria despercebido, na criação norte-americana. Seu resultado, enquanto avô materno, é colocado no rol dos melhores broodmare sires de todos os tempos. Suas filhas produziram 24 ganhadores de G1, tendo sido ele o avô materno líder das estatísticas, em 1992. Dentre seus mais ilustres netos, estão os dois reprodutores fundamentais, nos Estados Unidos, no último quarto do século XX: A. P. Indy (Seattle Slew) e Storm Cat (Storm Bird).
Em 1989, após uma crise de laminite, restou sacrificado, na própria Clairborne Farm – onde residiu por toda a sua vida reprodutiva. Na autópsia do animal, o Dr. Thomas Swerczek, da Universidade do Kentucky, desvendou um último segredo do eterno campeão: seu coração possuía tamanho cerca de 3 vezes maior do que a média dos corações de animais PSI, com peso estimado de 10 quilos.
Um ídolo nacional, no coração da cultura pop
Durante toda a sua carreira, Secretariat, além de arrastar multidões aos hipódromos e mobilizar milhões de aficionados, pela televisão, estampou as principais publicações do país.
Nas semanas véspera do Belmont Stakes, Secretariat foi capa de 3 das maiores revistas norte-americanas: Newsweek, Sports Illustrated e Time. Em 1999, a ESPN colocou-o na 35ª posição de um ranking contendo os 100 maiores atletas do século XX.
Por fim, em 2010, a Disney lançou um longa-metragem homônimo sobre a história do animal, dirigido por Randall Wallace e estrelado, dentre outros, por Diane Lane e John Malkovich.