Juvenis, paciência e o jogo do treinamento, por Sergio Barcellos
Paciência é uma virtude bíblica. Mais ainda, com jovens cavalos de corrida. De saída, seu motor (coração e pulmões) sempre fica pronto mais rápido que o chassis (ossos e ligamentos). Quando se acelera demais o motor antes do tempo, quebra-se o chassis.
Depois de motor e chassis prontos são necessários meses de treinamento e competição para perceber em que circunstâncias um cavalo melhor se expressa – leia-se, mais paciência.
Principalmente, por parte de seus naturalmente ansiosos proprietários em “ver correr.” E aí é que mora o perigo...
Ainda que as origens, o tipo físico e o temperamento do animal forneçam algumas primeiras indicações, nada é certo, nada está escrito, nesse difícil ofício de treinar, onde o profissional – qualquer profissional – tem que ter consciência de que, no fundo, está jogando xadrez com a natureza.
E grande parte desse jogo se resume ao que Federico Tesio considerava como a mais importante qualidade de um treinador: sua capacidade de observar e aprender (“L’allenatore deve, soppratuto, ininterrottamente, osservare, interpretare e rapidamente decidere” - Tocchi in Penna al Galoppo – Editora Hoepli, Milano, 1978 – pág. 46).
Na verdade, bons treinadores são aqueles que sempre aprendem algo a cada corrida de seu cavalo – e na maioria das vezes aprendem mais quando ele perde do que quando ganha.
É exatamente assim que funciona a liturgia dessa arte – porque treinar cavalos de corrida é mesmo uma arte – embora ela se expresse de forma diferente nos quatro cantos do mundo, em função dos gostos, hábitos e costumes de cada sociedade onde exista um turfe desenvolvido.
Por outras palavras, os conceitos de treinar nos EUA podem ser diferentes dos conceitos de treinar na França. E invariavelmente são. Que por sua vez, podem ser diferentes dos conceitos de treinar na Austrália, e assim por diante...dízima periódica...
E como geneticamente os indivíduos diferem uns dos outros, não existe um formato ideal e universal aplicável ao treinamento de todos os cavalos que constituem a raça puro sangue inglês de corrida.
Isto posto, como em outras atividades do mundo moderno, os níveis de especialização dentro da profissão tendem a crescer. Ao ponto de hoje em dia se distinguir – principalmente no hemisfério norte – entre quem treina bem para a velocidade, de quem treina melhor para a distância.
Fora os gênios da profissão, que treinam bem para ambas as especialidades, é normal que assim seja.
Isso tem muito a ver com a genética do cavalo, cujo genoma foi decifrado em 2006, por sinal, a partir de uma égua PSI. O que nos remete a algumas observações sobre juvenis, paciência e treinamento.
O genoma do cavalo
A sequência do DNA do cavalo – o seu “livro da vida” – tem 2,7 bilhões de pares de DNA, ou “letras” se quiserem (algo como quase 1.000 cópias da Bíblia) e hoje é de conhecimento comum, ou seja, está na INTERNET. Ele é menor que o genoma humano e maior que o genoma do cão.
Pela mesma analogia, são 33 os complexos “capítulos” desse livro, abrangendo os pares que determinam seu sexo (chamados de cromossomos sexuais), mais os 31 outros cromossomos responsáveis por todas as características do animal (chamados de autossomos).
Além dos cromossomos, entretanto, há outras estruturas dentro das células de seu organismo que contêm o DNA, conhecidas pelo nome de mitocôndria. Em contraste com a base de 2,7 bilhões de “letras” do DNA, a mitocôndria se apoia em um pequeno círculo cuja base, de cerca de 16.000 caracteres, é herdada exclusivamente da mãe do produto. Detalhe: é esse “pequeno” conjunto – repita-se, 100% feminino – que se responsabiliza pela geração de energia das células do animal.
Ou seja, a mitocôndria é a “casa de força” dos cavalos. O mesmo para a espécie humana, aliás.
Parêntese: agora que o fenômeno Galileo desponta como o maior reprodutor deste século, tendo superado seu pai Sadler’s Wells em número de ganhadores de Grupo I, não custa lembrar o fato de que sua família materna é tipicamente alemã. Mas isso é outra história. Voltemos à mitocôndria. Fechado a parêntese.
De tudo, parece importante perceber a importância das famílias maternas que estão na origem do cavalo de corrida. E aqui não se trata apenas de prestar uma justa reverência ao feminino de todas as espécies, e sim, à constatação de que sem mitocôndria não há geração de energia celular. Ponto.
O aparelho muscular
Durante os mais de três séculos de criação do cavalo de corrida, a seleção baseada no primado da velocidade teve um triplo e profundo efeito em sua fisiologia, seja ela muscular, seja na atual conformação do indivíduo, seja no nível de densidade de seus ossos.
Para não nos alongarmos muito, fiquemos apenas com o aparelho muscular. É sabido que ele depende de duas fontes primárias de energia: a aeróbica, que usa oxigênio, e a anaeróbica, que usa glicogênio estocado nas fibras musculares.
O que isso tem a ver com treinamento? Tem tudo. A seguir.
Há dois tipos de fibras musculares em qualquer ser vivo: as de contração lenta, mais finas, também conhecidas como Tipo I e as de contração rápida, ou Tipo II.
O Tipo I usa basicamente oxigênio transportado pelo sangue para os músculos, permitindo que as fibras se contraiam e se distendam por um maior período de tempo. O exemplo clássico é o dos maratonistas humanos que apresentam uma percentagem maior de fibras do Tipo I e, como tal, são fisicamente mais leves e mais esguios (slender, em inglês).
Em contraste, as fibras do Tipo II, de calibre maior, são aquelas capazes de produzir súbitas explosões de velocidade em um curto espaço de tempo.
É esta a maioria das fibras, por exemplo, dos corredores de 100 metros rasos. Ou se quiserem, dos grandes felinos predadores das planícies, capazes de atingir velocidades de 60 kms/hora, ou mais, mas tendo esse super esforço limitado a algumas dezenas de segundos.
Esse padrão é replicado na conformação dos cavalos de corrida e, em consequência, os “especializa” em distâncias curtas, meias distâncias e distâncias longas, consideradas modernamente como até os 4.000 metros. Vamos em frente.
As fibras de contratação rápida se subdividem em dois grupos: o Tipo IIb dos sprinters puros, animais de 800 e 1.000 metros – que usam basicamente glicogênio – e o Tipo IIa uma característica daqueles que conseguem alternar oxigênio e glicogênio como fontes de energia muscular.
Inclusive, há diferenças – visíveis a olho nu – na conformação física de cada um dos dois tipos de competidor e isso obedece ao que se convencionou chamar de “controle genético” da raça. Apenas como exemplo, os cavalos quartos-de-milha têm uma alta percentagem de fibras musculares do Tipo IIb, em oposição ao cavalo árabe que exibe uma percentagem maior de fibras do Tipo IIa – e, como se sabe, está na origem mesma do thoroughbred.
Todos os cavalos de corrida já nascem com um percentual de cerca de 80% de fibras musculares de contração rápida (Tipo II). Mas a proporção entre indivíduos IIa e IIb pode variar muito e provavelmente isso também está sob “controle genético.”
A forma de treina-los, entretanto, é diferente. Throughbreds sprinters puros – os chamados especialistas da velocidade – treinam comparativamente menos, porque isso os ajuda a preservar um estoque ideal de glicogênio antes da corrida, além de contribuir para a manutenção – a mais alta possível – de suas fibras de contração rápida.
Ao contrário, animais de distância e meia distância, os que usam majoritariamente oxigênio para dissipar o ácido láctico, normalmente são levados a treinar mais, porque isso colabora para expandir sua capacidade pulmonar, algo vital na abordagem de percursos maiores.
Como se nota, é praticamente impossível estabelecer um formato único de treinamento aplicável a todos os cavalos de corrida, onde cada indivíduo é um indivíduo peculiar e único.
E talvez a suprema beleza da profissão resida exatamente na percepção das diferenças na fisiologia dos aparelhos musculares da raça.
Distâncias, raças e treinamento
O Brasil é o quarto país do mundo em matéria de criação de cavalos de todas as raças com um plantel de cerca de 5,3 milhões de indivíduos (dados de 2014).
Ao contrário do que se possa imaginar, há entre nós uma sólida e enraizada cultura em torno do cavalo – principalmente no interior do país, hoje certamente mais rico que as cidades graças ao espetacular crescimento do agronegócio.
Na verdade, o Brasil – transformado em terceira maior potência agrícola do planeta – cria cavalos de salto, de adestramento, de enduro, de equitação, concurso completo, de lida com bovinos, etc, etc. E até cria – e bem – cavalos de corrida.
Começam as dificuldades
De todas essas raças, porém, a mais difícil de treinar é a puro sangue inglês de corrida. Fácil de entender. Primeiro, de todas elas, o PSI é o que inicia mais cedo sua preparação para a competição, quando nada no seu organismo está inteiramente formado (em relação à idade humana, um potrinho de dois anos é um adolescente de 14/15 anos de idade). No máximo.
Segundo, porque os testes a que eles são submetidos implica climas, distâncias, pistas, latitudes e ambientes diferentes. Principalmente em um país continental como o Brasil, quase metade de todo o continente sul-americano (apenas para comparar, somos 16,7 vezes o território da França, que corresponde ao tamanho do estado do Maranhão).
O que, no fundo, constitui um desafio – e um elogio – aos profissionais de treinamento do país.
Terceiro, porque galopar em alta velocidade carregando o peso de seu jóquei – e é disso que trata esse esporte – implica submeter continuamente os locomotores do cavalo de corrida – principalmente seus membros dianteiros – a impactos mais que severos contra as superfícies nem sempre uniformes das pistas.
Irrelevante de que tipo de pista se trate, altos níveis de concussão, medidos em toneladas de impacto, sempre estarão presentes, exigindo quase o impossível de ossos e articulações. Por óbvio, isso tem consequências sobre a estrutura locomotora das pernas do animal.
Treinando para a distância
Tesio criava e treinava para a distância clássica da milha e meia para cima porque era nesse intervalo que, em sua época, estavam os melhores prêmios – e a continuação de sua permanência na atividade dependia fundamentalmente de ganha-los.
O mesmo para os grandes treinadores europeus da primeira metade do século XX, cujos alvos principais eram os Derbies e as grandes provas de peso por idade a partir dos três anos.
Na segunda metade do século XX, entretanto, a crescente importância econômica do turfe norte-americano – cuja distância clássica padrão é de 2.000 metros – subverteu os conceitos de “classicismo” e teve uma influência decisiva no encurtamento das distâncias.
Encurtadas as distâncias, o treinamento teve de se adaptar às novas e implacáveis realidades do mercado mundial.
Talvez, isso ajude a explicar a atual e insuspeitada dominância genética da linhagem Northern Dancer.
E dentro dela, o fato de Danzig – cavalo de 1.200 metros, de grande tempera e presença, o equivalente ao som e a fúria da velocidade em seu estado puro – ter se tornado uma de suas maiores expressões, principalmente através de Danehill, o reprodutor que colocou definitivamente o turfe australiano no mapa internacional da criação.
Haja paciência...
Toda escolha nesta vida carrega consigo virtudes e limitações. Treinar para as provas milionárias de meia distância do turfe de nossos dias – aquelas situadas entre a milha e a milha e meia – pode significar correr riscos em relação à preservação da sanidade física dos animais.
Entre eles, os mais comuns têm a ver com os aparelhos ósseo e respiratório do indivíduo. Nenhum cavalo jovem consegue se livrar disso quando, em busca da forma ideal, é prematuramente exposto aos excessos do relógio.
É exatamente aqui que entram os gênios da profissão, seja em Chantilly, seja em Newmarket, seja em qualquer outro lugar onde exista um turfe superiormente organizado.
Bobby Frankel (Hall of Fame nos EUA, em 1995), treinador emérito, na América, dos animais da Juddmonte Farm (Sheik Abdullah), e de Frank Stronach, entre outros, tendo “construído” ganhadores como Cacique, Empire Maker, Flute, Marquetry, Quest For Fame, Raintrap, War Zone, Bertrando, Ryafan, Ghostzapper, Lesroidesanimaux, etc, detentor do recorde de haver desencilhado 25 ganhadores de Grupo I em 2003, deu, em 2008, o seguinte depoimento:
“Meus grandes proprietários são fáceis de lidar, porque eles têm paciência com seus animais. Se por acaso, estou correndo algum cavalo com demasiada frequência, é certo que educadamente eles me dirão: ‘Vamos dar-lhe um descanso...’ Os cavalos com que me dei melhor sempre foram aqueles que precisavam de tempo para amadurecer e não gostavam de ser vistos disputando páreos de 1.000 metros em maio ou junho.” [equivalente a dezembro e janeiro no hemisfério sul].
Outra forma de minimizar esses riscos – como ensinam há décadas os treinadores franceses nos 120 quilômetros de pistas da esplêndida floresta de Chantilly – é fazer com que os animais caminhem, trotem e galopem, sempre a meio correr, até que, finalmente, tenham aprendido ritmo e respiração. Isso, claro, pode levar tempo, mas o objetivo é esse mesmo: caminhar-trotar-galopar-esperar.
Com o importante detalhe de esperar sem relógio, sem balança, sem que eles sejam precocemente “experimentados” em partidas suicidas, com os pulmões preservados, os locomotores se solidificando aos poucos, protegidos da famosa “dor de canela”, filha indesejada da pressa em “ver correr.”
Não importa se galopam sozinhos ou em parelha, acompanhados por companheiros da mesma idade hípica, no longo e paciente processo de “construir quilometragem” sobre eles.
Certo ou errado, em Chantilly é assim. Como de resto, é assim nos principais centros de treinamento europeus, de Ballydoyle a Newmarket.
Outro parêntese: quando, no limiar dos anos ’70, Angel Penna, um dos maiores treinadores argentinos de seu tempo foi contratado a peso de ouro pela coudelaria Wildenstein (azul-marinho, boné azul celeste), a mesma de animais históricos como Allez France, Pawneese, Crow, Sagace, All Along, Strawberry Road, e outros, levou com ele para a França a Ignácio Pavlovsky, um dos grandes veterinários já aparecidos na América do Sul. Enquanto lá esteve, a dupla argentina ganhou para Daniel Wildenstein tudo que havia para ganhar na Europa. Nenhum cavalo jovem treinado por eles jamais sangrou. Fechado o parêntese.
Reflexo condicionado
A conhecida teoria do reflexo condicionado em animais (Pavlov, 1903) é, por definição, “a resposta mecânica (involuntária), uniforme e adaptada do organismo a um estímulo externo.”
Os cavalos, sejam os de corrida rasa, sejam os de obstáculos, sejam os de salto hípico, funcionam por reflexo condicionado. Faz parte de seu ethos. Criado o (bom) reflexo, eles aprendem rápido e tudo fica mais fácil. Alguns exemplos são conhecidos.
Tesio escreveu que nos cem metros finais, ninguém era mais rápido que Tenerani, funcionalmente um galopador profissional de distância. François Boutin ensinou Miesque a correr a milha em duas partidas de 800 metros – segundo ele, a única distância do turfe onde é possível dividir o percurso em duas partes iguais. Miesque ganhou todas as milhas de Grupo I que disputou nos dois lados do Atlântico.
A extraordinária Zarkava, das melhores éguas da história do moderno turfe europeu, embora largasse com um tempo de atraso (produto possivelmente de um reflexo equivocado), foi condicionada a trocar de marcha nos quatrocentos metros finais e, a partir daí, decidir em 150 metros, se tanto, todas as suas corridas, o Prix de l’Arc du Triomphe, inclusive, tendo se retirado invicta das pistas.
Quando inteiramente absorvidos pelo animal, os reflexos condicionados passam a fazer parte de sua natureza. E como tal, tornam-se infensos a mudanças abruptas nas “táticas de percurso.” Com eles, a única “tática” possível é deixá-los, ganhando ou perdendo, se expressar da forma como foram treinados – a única que conseguem entender.
Um bom resumo do que significa o reflexo condicionado no treinamento de cavalos de corrida, foi feito por Carl Nafzger, Membro do Hall of Fame do turfe americano, treinador, entre vários outros ganhadores de Grupo, de Unbridled (Kentucky Derby de 1990) e Street Sense (idem, 2007): “Cavalos não raciocinam. Cavalos aprendem.”
A natureza do indivíduo
Para complicar um pouco mais essa já difícil profissão, há o fato de os equinos serem nômades naturais. Por outras palavras, eles sempre migram.
Se alguém colocar um GPS num cavalo e solta-lo em campo aberto durante 24 horas, vai perceber que ele se movimentou 90% do tempo. Agora, imagine-se o que seja para seu “make-up” mental ter que estabular um cavalo de corrida 90%, ou mais, de toda a sua vida de atleta. Pois é...
Quando Nijinsky, em 1970, perdeu sua invencibilidade (por cabeça) para Sassafras no Prix de l’Arc du Triomphe, a imprensa perguntou aos seus responsáveis o que tinha, na opinião deles, acontecido.
Talvez a melhor explicação de todas tenha vindo do cavalariço que sempre o acompanhou desde potrinho e o conhecia na palma da mão: “Ele não tem um temperamento fácil...É muito difícil manter em forma e feliz um cavalo assim, treinando, correndo e viajando sem parar desde os dois anos de idade.”
Na realidade, Nijinsky tinha acabado para as pistas naquele primeiro domingo de outubro em Paris. E a última tentativa de fazê-lo se despedir delas na Inglaterra acabou em fracasso. Talvez estivesse com saudade dos grandes espaços abertos. É da natureza deles.
Ou, então, como explicou Tesio com uma clareza de ofender a vista: “Ogni macchina ha un limite alla resistenza del suo materiale. Cosi, ogni cavallo ha un limite alla resistenza dei suoi organi.”
E completa: “L’allenatore deve scoprirlo.” Ou, “o treinador deve descobri-lo.” Mais claro, impossível.
Performance atlética e hereditariedade
Há séculos, todos os criadores de cavalos de corrida do mundo tentam estabelecer qual a influência das origens – leia-se, o pedigree – na transmissão da habilidade atlética dos animais que produzem.
Sabemos que ela existe, mas até aqui a exata percentagem disso tem se baseado em uma visão estatística e, portanto, empírica do problema. Na verdade, a genética da habilidade atlética do thoroughbred ainda está em sua infância neste momento.
Na melhor das hipóteses, porém, estudos com base nos ratings do Timeform informam que cerca de 35 % a 50% das virtudes como corredor de um determinado animal se deve aos seus progenitores. Assim, quanto maior os ratings de pai e mãe, maior é a possibilidade de transmissão dessa habilidade ao produto.
Mas o resto não depende disso. Então, depende de que? Depende em partes iguais de duas implacáveis variáveis: criação e treinamento.
Nos atletas humanos – onde a pesquisa sobre hereditariedade vs habilidade atlética está muitíssimo mais desenvolvida – já se sabe que 239 genes estão envolvidos nisso, sendo 214 deles autossômicos, 7 se devem ao cromossomo X (feminino) e 18 deles ao DNA mitocondrial (também feminino).
Em uma tentativa corajosa de simplificação, se o “ambiente” onde o animal foi criado não é o ideal, ou se o treinamento que recebe não está adaptado ao seu perfil funcional, todas as vantagens da origem tendem a se corromper, quando não desaparecem por completo.
Ao contrário, cavalos de pedigrees considerados teoricamente modestos são perfeitamente capazes de superar essa desvantagem, se foram superiormente criados e são corretamente treinados.
Resumo
Nos últimos anos, o turfe brasileiro tem revelado excelentes corredores que saem daqui para brilhar nos mais competitivos centros da indústria internacional do puro sangue. O mesmo para vários jóqueis nascidos e iniciados no país.
Assim, nada impede que, um dia, treinadores brasileiros venham a se estabelecer com total sucesso no exterior.
Até porque, quem consegue treinar bem aqui – com todas as limitações que o turfe brasileiro impõe aos seus profissionais – é capaz de treinar bem no exterior.
Parafraseando a letra da conhecida música sobre New York, “If you can make it here, you can make it anywhere.”