11 mar 2021 | 22:08:54

Oceanos que não resistem a Frizette

Da Califórnia dominada por Life Is Good até o Rio de Janeiro de Just Like, uma das matriarcas fundamentais da criação PSI impõe sua genética além mares e por mais de um século de influência.


Frizette: legado incomensurável, na criação mundial

Imagem: TBHeritage.com

Famoso desde os seus primeiros exercícios cronometrados, Life Is Good esmagou seus adversários, no San Felipe Stakes (G2) e acena como outra provável vitória de Bob Baffert no Kentucky Derby (G1).

Famosa desde os seus primeiros exercícios cronometrados, Just Like protagonizou o difícil feito de estrear com vitória num black type: ela venceu, na Gávea, o Clássico Ministério da Agricultura (L).

Enredos parecidos, tratando de 2 destacados elementos da geração 2018, que, em diferentes hemisférios, fizeram valer sua categoria. Além disso, há outro ponto de semelhança, nas jornadas de Life Is Good e Just Like: a inesgotável Frizette.

Norte-americana, Frizette nasceu em 1905. Filha de Hamburg e Ondulee (St. Simon), produziu 36 saídas, vencendo em 12 delas. O Laureate Stakes, aos 2 anos, em Belmont Park, correspondeu à sua principal conquista. Embarcada, em 1908, para a França, Frizette também venceu, competindo naquele país.

Em que pese a boa campanha, nada se compararia ao desempenho de Frizette, enquanto reprodutora – que, logo na sua primeira cria, revelou Banshee, uma ganhadora da Poule d’Essai des Pouliches (G1). Tendo sua capacidade genética explorada, com sucesso, pelo não menos emblemático Marcel Boussac, Fizette, com seu DNA, transformou o turfe no século XX.

Mr. Prospector: Frizette é sua 6ª mãe

Imagem: Claiborne Farm

Tourbillon (3ª mãe), Mr. Prospector (6ª mãe), Seattle Slew (7ª mãe): exemplos pontuais do quão longe foi a herança genética de Frizette. Não raro, várias linhas maternas, no desenrolar da criação mundial, ainda que pujantes outrora, acabaram dissipando-se ou perdendo relevância, no avançar das décadas. Os descendentes de Frizette, todavia, vêm se posicionando em meio aos vencedores das principais provas, nos 4 cantos do mundo, há mais de 1 século. Motivo pelo qual, dentre os analistas e investidores das famílias maternas, se presta tamanha reverência à família 13-c.

Se Just Like (Frizette é sua 12ª mãe) renova os votos de Frizette, em pistas brasileiras, é necessário revisitar o fato de que sua enorme influência, por aqui, remonta longa data. Euphorie (Frizette é sua 7ª mãe), gema do Haras Expert, foi uma das poucas corredoras a conseguir o double nos GP Barão de Piracicaba e GP Henrique Possolo. Enviada para o Europa, Euphorie ratificaria suas qualidades, na condição de reprodutora, ao parir o irlandês Bello Horizonte, um múltiplo ganhador clássico entre França e Estados Unidos – incluindo o êxito obtido no Arcadia Handicap (G2), o qual, anos mais tarde, seria batizado de Frank E. Kilroe Mile Stakes – o grupo I californiano dos dias atuais.

Feito parecido, e que demonstra a tenacidade do classicismo forjado a partir de Frizette, independentemente do continente de atuação de suas proles, é o de Love Potion. Crioula do Haras Paraiso, venceu o Grande Prêmio OSAF (G1), em Cidade Jardim, tendo, então, sido exportada para a América do Norte. Lá, deu à luz Lassigny, múltiplo ganhador clássico, incluindo o International Stakes (G1), no Canadá.

Dentre os machos, descendentes de Frizette – via linha baixa – poucos chamaram tanta atenção quanto Troyanos, ganhador dos GGPP Brasil (G1) e São Paulo (G1). Mr. Fritz, veloz e resistente, consagrou-se como o algoz de Much Better no GP ANPC Matias Machline (G1). Ambos têm em Frizette sua 9ª mãe.

Smile Jenny descende de Sarah Gump, uma das mais bem sucedidas descendentes de Frizette, na criação sul americana

Imagem: Gérson Martins/Divulgação JCB

Via reprodutores descendentes de Frizette, houve tantos outros exemplos de sucesso. De matriarcas como Sweet Honey (filha de Kurrupako, por sua vez tendo Frizette como 5ª mãe) até corredores do porte do campeoníssimo milheiro, Quartier Latin (filho de Faublas, por sua vez tendo Frizette como 6ª mãe), a inesgotável matriarca alocou-se, com êxito, no pedigree de inúmeros animais de alto gabarito.

No entanto, talvez seja difícil equiparar qualquer experiência de Frizette, na criação brasileira, com aquela conseguida a partir da norte-americana Sarah Gump, de quem Frizette é 7ª mãe. Em verve cultivada pelo Haras Santa Maria de Araras, originaram-se corredores tais como Para-Choque, Smile Jenny e Beach Ball, um trio de ganhadores de graduação máxima. Beach Ball que é, aliás, a genitora de Just Like. 

Life Is Good, por sua vez, já é alçado, por muitos especialistas, à mesma prateleira de Justify e American Pharoah, os dois mais recentes tríplices coroados do turfe norte-americano. E como nada, nesse mundo – muito menos no mundo do turfe – é por acaso, não surpreende a constatação de que os 3, sem exceção, apresentam o nome de Frizette, em alguma altura dos seus respectivos pedigrees.

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