04 fev 2019 | 10:06:53

A formação do painel de ratings da IFHA, por Ricardo Ravagnani


A Federação Internacional de Autoridades Hípicas, IFHA na abreviação de International Federation of Horseracing Authorities, foi fruto do esforço para harmonização das regras do esporte turfe, materializado a partir de 1961, contando inicialmente com os executivos chefes de França, Inglaterra, Irlanda e Estados Unidos. A iniciativa foi liderada por Marcel Boussac (1889-1980)[1] e Jean Romanet (1914-2003)[2], sendo a França, Paris, até hoje sede da Federação.

Em 1966, na primeira reunião oficial envolvendo os comissários de corrida chefes de França, Inglaterra, Estados Unidos e Irlanda, tratou-se da urgência em padronizar as regulações voltadas à saúde; da harmonização no tocante às punições aos jóqueis; e deliberou-se positivamente acerca da multipropriedade dos animais e criação de sindicatos de proprietários. Naquela altura, a França já adotava o passaporte para os cavalos de corrida e Inglaterra e Irlanda decidiram juntar-se na experiência.

Marcel Boussac

Imagem: Widoobiz.com

A primeira conferência internacional de horseracing authorities foi organizada justamente pela Autoridade Francesa em 1967 e contou com a presença de representantes de 9 países, Bélgica, França. Alemanha, EUA, União Soviética, Inglaterra, Irlanda, Itália e Holanda.

Nesse mesmo período (1960-1970), também se discutia na Europa uma forma de equalizar os grandes prêmios, especialmente porque os prêmios na França eram muito maiores e as penalidades impostas aos cavalos nas principais provas eram justamente relacionadas aos prêmios ganhos. Em outras palavras, os cavalos estrangeiros corriam leves na França e começaram a ganhar. Surgiu, então, em 1971, o European Pattern System, firmado por França, Inglaterra e Irlanda e depois por Itália e Alemanha.

Essa é a base da divisão das principais provas do mundo em grupos I, II e III. No original, basicamente as condições eram essas:

Foi criado o Comitê de Provas de Grupo da Europa (European Pattern Committee) que tinha, entre outras atribuições normalmente visando evitar conflito entre datas importantes, a justificação da qualidade das provas de grupo pelos ratings, como no original:

Esse comitê passou a cuidar da avaliação das provas de grupo dos países membros, não mais lastreada nos prêmios ganhos pelos participantes, mas sim pelos ratings dos concorrentes. Ou seja, a técnica de elaboração dos ratings era preexistente à própria formação do EPC e seu critério remanesce até hoje igual, apenas com a ressalva de que, para provas do grupo 1, a avaliação deve se dar num período de quatro anos e não mais três.

Com efeito, as reuniões regulares do comitê e o envolvimento de mais países no trabalho conjunto, todos fazendo os ratings de todos, levaram à criação, em 1977, da primeira International Classifications, com a publicação anual da lista dos maiores ratings entre Inglaterra, França e Irlanda, em princípio apenas aqueles maiores que 120lb.

Em 1985, Itália e Alemanha foram introduzidos. 10 anos depois, em 1995, foram os EUA, seguidos em 1997 de Japão, Hong Kong e EAU, e em 1998 de Austrália e Nova Zelândia. Esses países entraram na classificação mediante a adoção das mesmas práticas do Comitê Europeu.

Jean Romanet

Imagem: Carphaz.com

Em 2003 foi criado o World Rankings Supervisory Committee – WRSC, composto por três representantes das federações europeia e asiática, e três representantes das Américas, sendo um deles indicado pela OSAF. Hoje em dia, Hong Kong, Austrália e Japão, além de Inglaterra, Irlanda e França, mais Estados Unidos, Canadá e Uruguai estão representados.

Esse comitê sucedeu aquele que fazia as International Classifications, passando o ranking a se chamar WTRR a partir da publicação de janeiro de 2004.

Em 2008 o WTRR começou a ser publicado anualmente, em Janeiro, contando com todos os cavalos com rating 115 ou maior. O alemão Manduro foi o primeiro, na nova sistemática de publicação, com 131lbs. Em 2012, Frankel alcançou 140lbs, no maior rating do WTRR desde então.  

A conferência anual que compila o ranking mundial, patrocinado desde 2013 pela Longines e hoje chamado Longines World’s Best Racehorse Rankings Committee, ocorre em dezembro, em Hong Kong, e conta com handicappers de todos os países que estejam a ele integrados.

A OSAF foi integrada a partir da organização de seu primeiro Encontro de Handicappers, em 2010, na Argentina. Ocorrem três encontros anuais, em rodízio de sedes, por ocasião do Latino, final de temporada (junho/julho) e novembro (derby). Desde 2013, cada país da região tem assento na conferência realizada em Hong Kong.

Os handicappers de cada país, que tenham inserido ratings nas carreiras avaliadas no sistema web próprio, têm direito a voto, num formato de maioria simples em que cada país representa um voto. A proposta de rating é feita pelo handicapper do país em que é treinado o cavalo e os demais concordam ou não, propondo números maiores ou menores, que vão à votação. Essa lista é compilada, formando o LWBRR.

Mensalmente os organizadores do comitê compilam pelo sistema próprio os maiores ratings, fazendo publicações mensais, precedidas de discussões não presenciais entre os handicappers.

por Ricardo Ravagnani - Handicapper da ABCPCC 

[1] Marcel Boussac, dono da Casa Dior, o criador e vendedor para os EUA de La Troienne, dono de Pharis, Tourbillon, Coaraze, entre outras lendas do turfe mundial entre os anos 1930 e 1960, titular do Haras de Fresnay-le-Buffard e também dirigente máximo da Autoridade Francesa (Societe d’Encouragement) por 14 anos.

[2] Jean Romanet, por 25 anos foi general manager da Autoridade Francesa, sucedendo seu grande amigo de Marcel Boussac. Pai do atual presidente da IFHA, Louis Romanet.

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