05 nov 2021 | 01:02:38

A história a um minuto e meio de ser contada

O fato de In Love e Ivar participarem, juntos, da Breeders' Cup Mile, já configura algo histórico e pleno de significado para a criação brasileira. Nenhum dos dois, contudo, está muito distante de, definitivamente, entrar para a história.


In Love é acompanhado, de perto, pelo companheiro de farda, Ivar, no Turf Mile Stakes (G1): dupla brasileira mostrou forma para a Breeders' Cup

Imagem: Coady Photo/TDN

Reportagens, vídeos, transmissões dos matinais. Esta semana é acompanhada com empolgação, por turfistas de todo o mundo, pois, nesta sexta-feira e neste sábado, a Breeders’ Cup será realizada, em sua versão 2021. Talvez o principal e mais relevante festival turfístico da atualidade, a jornada norte-americana – que volta às areias de Del Mar, na Califórnia – reunirá animais, profissionais e coudelarias advindos de diferentes países e continentes.

Especificamente para o Brasil, a Breeders’ Cup é uma experiência, relativamente, recente. Instituído na primeira metade da década de 1980, o meeting estadunidense – cujo conceito acabou, replicado, em várias outras partes do mundo – recebeu, pela primeira vez, um PSI brasileiro, em suas disputas, no ano 2000. Na ocasião, Riboletta competiu (na condição de favorita) na Breeders’ Cup Distaff (G1), vencida por Spain – e no qual a crioula do Haras Santa Ana do Rio Grande, que, ainda assim, viria a ser eleita Champion Older Mare no Eclipse Awards, finalizou em sétimo.

Depois disso, dentre as participações pontuais de brasileiros (também justificadas pelas penalidades de inscrição; motivo, por exemplo, de Pico Central não ter corrido, em 2004, na Breeders’ Cup Sprint (G1), o que teria feito, provavelmente, como força inconteste da disputa), nunca outra chegou tão perto de ser convertida em vitória, quanto a atuação de Leroidesanimaux, na Breeders’ Cup Mile (G1) de 2005. À época o melhor cavalo de grama, nos Estados Unidos, Leroidesanimaux enfrentou problemas de casco, nas vésperas da prova e, mesmo assim, formou a dupla, em final acirrado, para Artie Schiller.

Leroidesanimaux, minutos antes da Breeders' Cup Mile (G1) de 2005: a melhor participação de um brasileiro, no festival norte-americano

Imagem: Jessie Holmes

Passaram-se, então, 16 anos desde a inesquecível performance de Leroidesanimaux e, novamente, a mesma Breeders’ Cup Mile (G1) entra na rota de animais brasileiros, prontos para fazerem história. Aliás, desta feita, a importância da representação nacional no páreo é, literalmente, em dobro. Pela primeira vez, dois cavalos criados no país competirão, juntos, num mesmo páreo da Breeders’ Cup. E, talvez, desde o próprio Leroidesanimaux, a chance de uma – inédita – vitória não se fazia tão presente à uma inscrição verde e amarela, no festival.

In Love e Ivar, ambos filhos do recentemente desaparecido Agnes Gold e egressos dos campos da Fazenda Mondesir, em Bagé (o primeiro, aliás, conta com o próprio Mondesir como seu co-criador), foram levados, ainda inéditos, para a Argentina, onde defenderam a farda do Stud Rio Dois Irmãos. Se In Love revelou-se, a priori, bom potro, com direito a um quarto no Derby Argentino, Ivar, por sua vez, foi uma explosão, no turfe do país vizinho. Invicto em 3 corridas, venceu 2 provas de G1, entre areia e grama, sempre com grande facilidade – o que lhe rendeu o título de Melhor Potro de 2 anos do país.  

Em seguida, enviados para os Estados Unidos, Ivar e In Love repetiram, de algum modo, o ritmo de seus respectivos brilhos. Ivar, ainda que demorando um bocado para se encontrar, correndo nas pistas norte-americanas, não tardou em ratificar sua condição de cavalo – muito – acima da média. Em 2020, venceu o Turf Mile Stakes (G1), em Keeneland, num êxito que lhe rendeu lugar no partidor da Breeders’ Cup Mile (G1) do ano passado. Noutra ótima corrida, o brasileiro finalizou em quarto, sendo o melhor dentre os animais treinados nos Estados Unidos. Venceu Order of St. George, um irlandês da Coolmore, que, recentemente, foi aposentado das competições.

Ivar, então, ganhou descanso. Retornou no primeiro semestre de 2021 e problemas ocorreram-lhe. Enquanto, contudo, corria o tempo necessário à sua recuperação, eis que desabrochou, novamente, de maneira mais tardia, In Love. Depois de encontrar o caminho das vitórias, em Arlington, In Love (que passou a usar antolhos) retornou, com sucesso, à esfera nobre. No rico festival de Kentucky Downs, In Love venceu o TVG Stakes (L), em seu primeiro êxito black type. A exibição seguinte, então, coincidiu com uma dupla inscrição de Rio Dois Irmãos & Bonne Chance Farm naquele mesmo Turf Mile Stakes (G1): além de In Love, a volta de Ivar, que reaparecia.

Paulo Henrique Lobo protagoniza carreira talhada a conquistas de grande calibre

Imagem: Arquivo

Num momento mais do que especial, In Love venceu a importante disputa, marcando, a segunda vitória consecutiva das suas conexões, na prestigiosa prova. Ivar, em reaparecimento de alto padrão, foi o quarto colocado. Ali, ambos sinalizaram: estavam prontos para a grande festa de Del Mar.

Capitaneando a equipe que responde pela ilustre dupla, há um Paulo Henrique Lobo cuja história confunde-se, em alguma medida, com a própria história do cavalo brasileiro, nos Estados Unidos. Desde a sua chegada, em terras estadunidenses, há duas décadas, Lobo acostumou-se a desafiar o improvável e fazer de grandes feitos a tônica de sua carreira de treinador. Herdou do pai, o fantástico Selmar Lobo, a maestria da preparação de um puro sangue de corridas. Desenvolveu, à própria moda, porém, a habilidade de se fazer relevante no mais competitivo polo do turfe mundial. O exímio treinador tem, diante de si, mais uma chance de protagonizar um feito, até então inédito, para um profissional de seu ofício, nascido no Brasil.

Favorito no morning line, Space Blues é uma das várias boas inscrições da Godolphin, no festival, e surge como o maior, dentre todos os obstáculos, no caminho da dupla brasileira. Vindo de vencer o Prix de La Foret (G1), no card do Prix l’Arc de Triomphe (G1) o alazão treinado por Charles Appleby não é, todavia, a única carta brava da competição, proveniente da Europa. Mother Earth, que tentará render o “bi” à Coolmore, figura como uma das melhores 3 anos europeias desta geração. Venceu, dentre outros páreos, o 1000 Guineas (G1), em Newmarket. Vindo de 5 vitórias consecutivas, em provas graduadas, Mo Forza tende a ser, dentre os animais treinados nos Estados Unidos, o mais apostado.

A Breeders’ Cup Mile (G1) distribuirá US$ 2.000.000,00 em prêmios e será disputada às 19h20 do próximo sábado, no horário de Brasília.

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