14 out 2025 | 02:57:25

GP Latinoamericano: os escultores de uma liderança brasileira

De Dark Brown a Doutor Sureño, 12 foram as vitórias de animais brasileiros (sendo 11 como representantes do país), no Gran Premio Latinoamericano (G1). Neste sábado, a busca por mais.


Um clima de euforia e ansiedade toma conta da comunidade turfística nacional, a cada dia que se aproxima a disputa do Gran Premio Latinoamericano (G1) do próximo sábado. Afinal, além da promessa de uma grande festa, no Jockey Club Brasileiro, a própria história do páreo reserva, aos brasileiros, excelentes lembranças que, refletidas nos corredores do presente, transformam-se na expectativa por mais uma vitória "da casa".

Realizado, pela primeira vez, há mais de 4 décadas, o Gran Premio Latinoamericano confunde sua história com alguns dos nomes mais emblemáticos do esporte, em nosso país. São criadores, proprietários, profissionais e, logicamente, animais inesquecíveis que, empenharam seu talento nas pistas do continente, para, até aqui, renderem 12 vitórias para a criação brasileira - sendo 11 na condição de corredores que também representaram o Brasil, em suas respectivas incursões.

Não à toa, recordar o "Latino" é, sempre, uma tarefa das mais prazerosas, para o turfista brasileiro. Enquanto não chega a hora da cobiçada disputa, em 2025, o passeio pelos nomes e detalhes que permearam cada uma dessas conquistas, até aqui, preenchem a imaginação dos aficionados de plantão - e também ajuda a contar parte significativa da história do páreo.

1981 - DARK BROWN

Imagem: Revista Turfe e Fomento

Idealizado em 1979 (quando da fundação da Asociación Latinoamericana de Jockey Clubes e Hipódromos), o Gran Premio Latinoamericano resultou da intenção de os hipódromos sul-americanos promoverem, anualmente, uma corrida internacional, em caráter itinerante, sob a proposta de reunir, a cada temporada, os melhores nomes do continente. No dia 1º de março de 1981, por ocasião de sua primeira edição, o brasileiro DARK BROWN (Tumble Lark e Nogueira, por Gay Garland), de criação e propriedade do Haras Rosa do Sul, venceu, em final de pura emoção. Sobre a pista de areia de Maroñas, o conduzido do inesquecível Antônio Bolino, treinado pelo talentosíssimo Abádio Cabreira, superou, nos metros finais, a Regidor e Mountdrago - que, nessa ordem, haviam feito ponta e dupla no GP Carlos Pellegrini do ano anterior.

 
1982 - DUPLEX

Imagem: Revista Turfe e Fomento

Se os Harlem Globetrotters assumissem a forma de um cavalo de corrida, a chance de os artistas do basquete atenderem pelo nome de DUPLEX (Breeders' Dream e Dulcine, por Coaraze) seria enorme. Tendo rodado a América do Sul, esbanjando seus recursos de arenático excepcional, Duplex permitiu-se a algo a mais, no ano de 1982. Na raia de grama de San Isidro, o corredor venceu a segunda edição do "Latino", recebendo a condução de outro freio inesquecível: Jorge Garcia. Em seu treinamento, estava Walfrido Garcia, que, cada vez mais acostumado às raias do exterior, encontrava-se na iminência de realizar sua incursão pelo turfe norte-americano. Criação de Roberto Grimaldi Seabra e propriedade do Stud Jupia.


1983 - DEREK

Imagem: Revista Turfe e Fomento

Um tango de Gardel, dramático como poucos, cantado em verso e prosa, na raia de Cidade Jardim. O Gran Premio Latinoamericano de 1983, muito embora disputado no dia 6 de março, já vinha mexendo com os carreiristas locais alguns dias antes. Na véspera da corrida, DEREK (Kublai Khan e Epinette, por Blackamoor) acidentou-se, nos matinais de Cidade Jardim, levando Albênzio Barrozo ao solo. O jóquei líder das estatísticas de São Paulo logo teve sua ausência do páreo anunciada, restando ao cavalo do Haras São José & Expedictus uma improvável missão de se recuperar a tempo da disputa. Numa história digna das mais bonitas páginas do turfe, o pensionista de José Severino Silva, então conduzido por Luis Correa Silva não apenas alinhou para a prova, como também sagrou-se o vencedor da primeira edição do GP Latinoamericano, realizada no Brasil.

 


1985 - OLD MASTER

Imagem: Jockey Club Brasileiro

"Dou-lhe uma, dou-lhe duas, dou-lhe três e... Vendi". Esse bordão repetiu-se por, nada menos, que cinco vezes, na vida de OLD MASTER (Sabinus e Ice Queen, por Bonnard), antes de o tordilho restar devolvido, pela quinta vez, e permanecer, em definitivo, no plantel de seu criador - o Haras Santa Maria de Araras. Quiseram os deuses do turfe que residisse nas patas (para alguns dos que lhe devolveram, mal aprumadas) daquele tordilho poderio locomotor suficiente para fazer dele um dos "grandes" do turfe nacional, numa década dourada. Tríplice coroado, na Gávea, em 1984, Old Master venceria, naquela mesma raia, o primeiro "Latino" disputado em solo carioca, no ano de 1985. Condução a cargo de Francisco Pereira Filho e treinamento para o excelente Wilson Pereira Lavor.

 

1991 - FALCON JET

Imagem: Porfírio Menezes

O mais quente duelo do turfe brasileiro à época, comumente protagonizado na raia da Gávea, ganhou especial capítulo em Cidade Jardim, no ano de 1992. FALCON JET (Ghadeer e Victress, por Hornbeam), de criação e propriedade do Haras Santa Ana do Rio Grande, levou a melhor sobre seu arquirrival, Flying Finn (teve de se contentar com a segunda colocação), por ocasião do Gran Premio Latinoameriano de 1991, que retornava à capital paulista 8 anos após a heroica conquista de Derek. No ato, o rol de campeões do páreo conheceria aqueles que se tornariam os recordistas de vitórias, entre jóqueis e treinadores, no histórico da competição. João Luis Maciel, futuro tricampeão do páreo, foi quem encilhou Falcon Jet. Jorge Ricardo, o único "penta" entre os jóqueis, experimentou o sabor de cruzar o disco em primeiro numa edição do "Latino".

 

1994 - MUCH BETTER

Imagem: Revista Puro Sangue Inglês

A primeira jornada de uma temporada colossal: foi assim que o Gran Premio Latinoamericano de 1994, disputado na raia de areia de Palermo, marcou o ano - jamais igualado por qualquer PSI da América do Sul - de MUCH BETTER (Baynoun e Charming Dool, por Brac). Resistindo ao tropel do chileno Laredo (vencedor do Derby, em seu país de origem), Much Better voltou a colocar Jorge Ricardo e João Luiz Maciel no lugar mais alto do pódium, da magna disputa. Em terceiro, finalizou outro ilustre brasileiro: Romarin, múltiplo ganhador graduado nos Estados Unidos e, anos mais tarde, reprodutor de sucesso, no Brasil. A partir de sua vitória no "Latino", Much Better (criado pelo Haras J. B. Barros, de propriedade do Stud TNT) venceria, ainda, os Grandes Prêmios São Paulo, Brasil e Carlos Pellegrini - sem prejuízo de uma atuação, nesse ínterim, no Prix l'Arc de Triomphe, em Paris, corrida esta sucedida, 21 dias depois, por um segundo lugar "na foto", no Brasil, para Fantastic Dancer (então batendo o recorde dos 2.400m, na Gávea), por ocasião da Copa ANPC Matias Machline.

 

1996 - MUCH BETTER

Imagem: Revista Puro Sangue Inglês

Na reta final de sua magnífica campanha, MUCH BETTER (Baynoun e Charming Dool, por Brac) tornou-se o primeiro - e, até hoje, único - bicampeão do Gran Premio Latinoamericano. No retorno da prova à Gávea, após 11 anos, o crioulo do Haras J. B. Barros, em defesa da farda do Stud TNT, conquistou vitória plena de firmeza, derrotando o chileno, "habitué" das maiores provas cariocas, Gran Ducato, que, em seu país de origem, foi "cavalo do ano" e ganhador de, nada menos, que 6 vitórias de G1. Conduzido por seu parceiro inseparável, Jorge Ricardo, Much Better rendeu a João Luiz Maciel o último grande troféu de sua meteórica e brilhante carreira de treinador: pouco após a vitória de Much Better, o profissional viria a falecer, tornando o quadro de treinadores brasileiros carente de uma das suas principais estrelas.

 

1998 - JIMWAKI

Imagem: Revista Puro Sangue Inglês

Tendo encerrado o ano de 1997 na condição de melhor animal do turfe brasileiro (à base de convincentes vitórias obtidas nos Grandes Prêmios Brasil e Copa ANPC Matias Machline), JIMWAKI (Gem Master e Winwaki, por Miswaki) viajou até Buenos Aires, em dezembro daquele ano para finalizar em quinto no "Pellegrini" amplamente dominado pelo astro local, Chullo (então escoltado por Quari Bravo, que vinha de conquistar a tríplice coroa de Cidade Jardim). Quatro meses depois, no mesmo palco, Jimwaki, Quari Bravo e Chullo voltariam a medir forças, por ocasião do Gran Premio Latinoamericano, ocasião em que, sendo conduzido, pela primeira vez, por Jorge Ricardo, Jimwaki revelou-se seu magnífico ganhador. Quari Bravo foi o quarto e Chullo sétimo. A vitória serviria de prenúncio para o sucesso que se avizinhava, em terras portenhas, tanto para o Haras Equilia (dois anos depois sediaria sua operação na Argentina, sob a firma de Haras La Providencia), quanto para o treinador José Martins Alves (treinando para o haras da Família Depieri, no país vizinho, conquistou, praticamente, todos os seus maiores páreos).

 

2009 - HOT SIX

Imagem: Karol Loureiro

Pondo fim ao maior hiato, no histórico da prova, sem que houvesse vitória de um animal brasileiro, HOT SIX (Burooj e Babysix, por With Approval) foi o campeão da versão 2009 do páreo, que retornava a Cidade Jardim 17 após a última edição disputada no hipódromo paulistano. Associados ao tordilho, estavam o treinador Givanildo Duarte, de breve, mas já muito vitorioso, histórico na profissão, e o jóquei Jorge Leme, múltiplo ganhador de provas de G1, na Gávea (onde havia sido tríplice coroado, com Groove, em 1996) - que, ali, escreviam seus respectivos nomes, numa seleta galeria. O campeão daquele ano fez do Haras J. B. Barros o primeiro haras brasileiro a alcançar a marca de 3 troféus, no histórico da competição, bem como reforçou a sina da farda do Stud Estrela Energia ser talhada à conquista de grandes corridas internacionais. Essa foi a mais importante vitória da campanha de Hot Six, que, exportado, chegou a competir no Prix l'Arc de Triomphe.

 

2016 - SOME IN TIEME

Imagem: Sylvio Rondinelli

Contando com um lote de alto nível, o Gran Premio Latinoamericano teve sua primeira edição "carioca", no século XXI, por ocasião do ano de 2016. Fazendo frente a animais como Universal Law, Daniel Boone e Don Inc, SOME IN TIEME (Shirocco e Orma Giusta, por Royal Academy) foi quem levou a melhor - após formar a dupla para o já mencionado Don Inc e este restar reprovado, no exame antidoping. O castanho, de criação do Haras Santa Maria de Araras (bisou sua conquista anterior, obtida como criador de Old Master) e propriedade de Oitavo Stud, foi conduzido por Waldomiro Blandi e contava com o treinamento do experiente Gladston Figueiredo Santos. Então com 3 anos, Some In Tieme havia vencido, no semestre anterior, o GP Linneo de Paula Machado - Grande Criterium. Enviado aos Estados Unidos, Some In Tieme ingressou no seleto grupo de animais brasileiros que venceram provas graduadas, naquele país: conquistou, em 2017, o Louisville Handicap (G3), disputado na milha e meia, em Churchill Downs.

 

2021 - AERO TREM

Imagem: Duprat Photo

Representando o Hipódromo de Maroñas, AERO TREM (Shanghai Bobby e Piace Molto, por Gilded Time) tornou-se o 11º cavalo brasileiro a vencer o Gran Premio Latinoamericano. Sua importante conquista ocorreu no ano de 2021, justamente no principal hipódromo uruguaio - para delírio dos entusiastas locais. Crioulo e defensor do Haras Old Friends, Aero Trem (conduzido por Vagner Leal e treinado por Antônio Luis Cintra) muito aproximou-se de se tornar tríplice coroado, no Uruguai, em 2018 (faltou-lhe apenas o Derby do GP Nacional) e venceu, por duas vezes, a milha do GP Pedro Piñeyrúa. Inobstante, foi capaz de resistir a uma gravíssima cólica, que demandou intervenção cirúrgica e, por muito pouco, não lhe tirou a vida. No ano de 2022, Aero Trem conquistou uma muito celebrada quinta colocação na Saudi Cup, prova de maior dotação do turfe mundial, figurando como o primeiro - e, até agora, único - sulamericano o "top 5" da concorrida disputa árabe.

 

2023 - DOUTOR SUREÑO

Imagem: Hipódromo San Isidro

Numa das fáceis e celebradas vitórias de um animal brasileiro, já vislumbradas em todo o histórico da prova, DOUTOR SUREÑO (Agnes Gold e Notável Sureña, por Redattore) viajou até San Isidro para vencer, em vibrante atropelada, o Gran Premio Latinoamericano do ano de 2023. Sem que José Severo tenha exigido seu conduzido a fundo, o crioulo do Haras Old Friends (tornou-se bicampeão da prova), na defesa da farda do Haras Moema, consagrou sua campanha - que já se encontrava condecorada com o troféu do Grande Prêmio São Paulo daquele mesmo ano. Treinado por Victorio Fornasaro, Doutor Sureño chegou a ter sua participação na prova posta em xeque, na semana véspera, por força de um problema no ferrageamento. Superou, por fim, a tudo e a todos, sendo reconhecido como "Cavalo do Ano", no Brasil, ao final daquela temporada hípica - logo após desaparecer, precocemente, quando se encontrava na iminência de ser incorporado à reprodução.

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