24 mar 2021 | 18:25:38

Os cavalos em homenagem à Principessa di Capri

Tendo encontrado, no turfe, um meio de superação de trauma pessoal, Leonardo Gadelha coleciona troféus e boas histórias com os defensores do Stud Principessa di Capri.


A farda azul, em homenagem à Principessa di Capri

Imagem: Sylvio Rondinelli

Em setembro de 2010, o precoce falecimento da modelo Carla Souza Lima repercutiu em diversas publicações, Brasil afora. Top model, nos anos 80 – década na qual desfilou, em solo europeu, para renomados estilistas, tais quais Hubert de Givenchy e Yves Saint Laurent – Carla conviveu, por 14 anos, até seu passamento, com o também carioca Leonardo Gadelha.

O casal conheceu-se de maneira inusitada: durante um desfile de moda, num shopping center, em Sardegna, na Itália, no ano de 1996. Leonardo havia acabado de chegar de viagem e ido até o local, tão somente, para jantar. Acabou por encontrar, porém, o grande amor de sua vida, que, em questão de pouco tempo, se tornaria sua esposa e passaria a compartilhar, com Leonardo, um calendário dividido, entre Brasil e Itália.

O choque provocado pelo falecimento da companheira não impediu Leonardo de lhe prestar diversas homenagens – incluindo a redação de um livro. Ainda assim, apesar dos esforços para conservar a memória de Carla – e das histórias vividas pelo casal – Leonardo, num determinado momento, viu-se à procura de uma atividade que lhe rendesse a distração necessária para superar o trauma pessoal.

“Meu pai foi criador. Eu também, na juventude, junto de amigos, tive cavalos, no Hipódromo da Gávea. Mas sempre de maneira amadora, ou pouco dedicada. Muito mais pela ‘festa’. Então, por volta de 2012, num momento no qual eu buscava algo que me pudesse me entreter, voltei ao turfe”.

Em dezembro de 2012, houve o leilão de liquidação do Stud Farda Vencedora. Ao abrir o catálogo, Leonardo fez sua escolha: o número 23 do lote, correspondente à potranca Colhendo Flores. Uma Northern Afleet na ganhadora de G3, Todas As Flores, por Roi Normand. Martelo batido e Leonardo prontamente mudou o nome da fêmea, recém adquirida: Principessa Capri, uma homenagem à Carla, que também viria a batizar a coudelaria, então, constituída, pelo turfista: Stud Principessa di Capri.

Livro escrito e publicado por Leonardo, em homenagem a Carla Souza Lima

Imagem: Arquivo Pessoal

Até aí, sonho realizado e uma nova etapa iniciada, para Leonardo – que enviou Principessa Capri, alguns meses depois, para o treinador Dulcino Guignoni. Não demorou, porém, para que a, ainda breve, jornada turfística, se transformasse numa montanha russa de emoções.

“Um dia, o (Dulcino) Guignoni me ligou. Disse ‘Leonardo, nós temos um problema’. A potranca que está aqui não é a Principessa Capri. É outro animal’. Aí eu me perguntei, como fazer para encontrar a ‘verdadeira’ potranca? E mais, eu queria aquela que havia comprado. Tinha escolhido, dado seu nome e tudo mais.”

Compreendendo, porém, que o engano precisaria ser desfeito, Leonardo passou a peregrinar, então, atrás da “outra” potranca. Recorreu ao Stud Book Brasileiro, à época com Ricardo Ravagnani no posto de superintendente – e que, no primeiro contato tranquilizou o proprietário.

“O Ravagnani me disse, ‘vai demorar um pouco, mas vamos encontrar e destrocar as potrancas’. Dito e feito. Descobriu-se que a potranca que eu havia adquirido era, na verdade, uma filha de Elusive Quality e Nossa Magee. Elas foram criadas juntas, no Haras Old Friends, em Bagé. A ‘minha’ potranca, de fato, sequer havia ido para o hipódromo. Estava no haras.”

Àquela altura, porém, a potranca arrematada, no leilão, já havia despertado seu “apego”. Fazia planos para a alazã, nas pistas e, inclusive, na reprodução.

“Não foi algo fácil. Veja, eu gostava muito da potranca que adquiri. Guignoni dava-me boas referências dela. Queria usá-la, depois, como reprodutora. Mas, fato é que o ‘certo é o certo’. Destrocamos as potrancas e o Haras Old Friends, num ato de grande gentileza, aceitou arrendar-me a campanha da potranca que comprei, devendo restitui-la ao haras, quando parasse de correr. A potranca arrendada, aliás, passou a se chamar Principessa Carla”.

Nas pistas, ambas defenderam a farda azul, com a escrita “Capri” – remissão a um dos locais favoritos do casal – em letras brancas. Principessa Carla venceu 3 corridas em 13 saídas. Chegou a colocar-se em prova especial, sendo, como antecipado, devolvida ao Haras Old Friends, após o encerramento de sua campanha. Como reprodutora, figura como múltipla produtora clássica: é mãe dos ganhadores de G3 e listed, Best Magee e Captain My Captain – este último, recentemente, negociado com o turfe asiático.

Filo di Arianna deixou o Brasil após obter 3 vitórias - todas clássicas - em 3 saídas

Imagem: Sylvio Rondinelli/Divulgação JCB

Já Principessa Capri correu 10 vezes, obtendo 1 vitória. Num determinado momento, a corredora acusou uma pequena lesão no joelho. Algo, inclusive, que poderia ser remediado para estender, um bocado mais, sua campanha.

“Quando isso aconteceu, avisei o Guignoni que não queria ‘empapelar’ a Principessa Capri, nem insistir, já que havia aquele problema. Até porque essa era a égua que eu levaria para a reprodução, queria preservá-la. E foi o que fiz.”

Em setembro de 2015, Principessa Capri deu à luz seu primeiro produto: Faro Spativento, um alazão, por Drosselmeyer.

“O Faro Spativento foi um bom cavalo. Cavalo útil, que corre até hoje. Mas foi no ano seguinte que a Principessa Capri nos daria um grande presente”.

Leonardo refere-se a Filo di Arianna. Nascido, na Fazenda Mondesir, em 2016, o filho de Drosselmeyer dividiu, com Jolie Olímpica, a liderança dos animais de 2 e 3 anos, então em campanha, na Gávea. Com uma campanha integralmente clássica, venceu, na estreia, o Clássico José Calmon (L) e, nas atuações seguintes, os Grandes Prêmios Mário de Azevedo Ribeiro (G3) e Conde de Herzberg (G2). Deixou o Brasil na condição de animal invicto, antes do aguardado embate com Jolie Olímpica.

“Ele foi um cavalo formidável. Venceu todas com facilidade. As três na esfera clássica. Recebi uma proposta muito boa, quase irrecusável, e acabei exportando-o. Infelizmente, em virtude de um acidente, ocorrido dentro da própria cocheira, nos Estados Unidos, ele lesionou-se gravemente e não chegou a estrear. Até hoje tenho notícias que seus responsáveis tentam recuperá-lo, para corrida. Mas se trata de uma tarefa árdua”.

A manta e os troféus, de Culo e Camicia, no GP Francisco Eduardo e Linneo Eduardo de Paula Machado

Imagem: Sylvio Rondinelli/Divulgação JCB

Enquanto Filo di Arianna se despedia do Brasil, Leonardo enviava para doma, no Haras Vendaval, em São Paulo, outro filho de Principessa Capri: Culo e Camicia, um Agnes Gold que, a exemplo do irmão ilustre, mantinha a pelagem alazã da mãe.

“O Culo E Camicia, desde cedo, mostrou-se um potro de personalidade. Um bocado arredio. O Paulo Bérgamo, veterinário do Mondesir, comentou comigo, desde lá de trás, que ele era um cavalo bastante inteligente. Foi uma batalha para conseguirmos fazermos ele embarcar, de Bagé para São Paulo.”

Após a iniciação, sendo enviado para o Rio de Janeiro, Culo e Camicia animou desde os primeiros trabalhos.

“O Bebetinho (Roberto Morgado Neto) sempre elogiou o potro. Falava que seria muito bom, trabalhava bem e tudo mais. Fez boas corridas, desde a estreia, conseguindo, depois, duas vitórias. Fomos, então, para a esfera clássica. Demos azar, porém, de corrê-lo numa grama encharcada, na qual ele não se acertou. O treinador resolveu pular a primeira prova e dar a ele a chance de voltar nos 2.000 metros da Tríplice Coroa. E, para nossa alegria, ele venceu, numa condução maravilhosa do Alex Mota”.

Além de Culo E Camicia, que se encontra na iminência de tentar o Derby, Principessa Capri pariu duas fêmeas, na sequência. Uccellino Ribelle, uma irmã própria do recente vencedor do GP Francisco Eduardo e Linneo Eduardo de Paula Machado (G1), que está prestes a estrear; e Formentera, por Drosselmeyer, ainda no haras. Por fim, em 2020, a excelente matriz produziu Monafan, um macho, por Drosselmeyer.

Até aqui, as “principessas” habitam a vida de Leonardo, dividindo-se no preenchimento de momentos especiais, em sua memória e vivência. Ao que tudo indica, as belas histórias da farda azul não têm, até segunda ordem, sequer sinal de ponto final.

por Kelvin Turrin e Victor Corrêa

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