ABCPCC entrevista: Gonçalino Feijó de Almeida
Jóquei talhado às grandes conquistas, nas pistas do Brasil e no exterior, Gonçalino Feijó de Almeida fez do apelido Goncinha sinônimo de momentos gloriosos das corridas de cavalo.
De todas as certezas que rondavam o nascimento de Gonçalino Feijó de Almeida, em 1956, dificilmente havia alguma mais forte do que a seguinte: seu destino estaria atrelado às corridas de cavalo e aos cavalos de corrida. Com o sangue de profissionais do turfe correndo em suas veias, ele viria a tornar-se o G. F. Almeida dos programas e o Goncinha do imaginário turfístico, tendo, com sucesso, galgado posto entre os melhores jóqueis brasileiros, de todos os tempos.
A condução à moda do freio, que eternizou Goncinha como ginete dos grandes prêmios, é idiossincrasia dos tempos mais felizes do esporte, em nosso país. Também é saudosista a constatação de que Goncinha emprestou seu talento a quase todos os grandes haras brasileiros. Com a farda do Haras São José & Expedictus venceu, por exemplo, o Derby de Grison. Para o Haras Santa Maria de Araras, montou Rasharkin, em São Paulo, no GP Diana. Sua eterna segunda pele, porém, não foi nenhuma delas, mas sim, a vestimenta da Fazenda Mondesir. Dos Grandes Prêmios Brasil de Janus e Sunset – passando pelo inédito bicampeonato do GP São Paulo a bordo de duas fêmeas, Cisplatine e Bretagne – à tríplice coroa de Indian Chris, a parceria entre Goncinha e os animais da família Peixoto de Castro consagrou animais que até hoje habitam filiações de grandes corredores, no Brasil e no exterior.
Brasil e exterior: essa toada também fez-se presente à carreira do próprio jóquei. Na transição entre as décadas de 80 e 90, Goncinha aventurou-se no turfe norte-americano. Para isso trocou o freio pelo bridão e precisou encarar a realidade do mais competitivo polo turfístico do mundo. Nem uma coisa nem outra, contudo, impediram-no de brilhar, também, por lá. Obteve vitórias na mais do que seletiva esfera clássica estadunidense e até hoje habita e milita no seu meio turfístico. Mesmo longe do Brasil, não se furtou, quando de suas visitas pontuais e muito bem sucedidas, ao nosso país, de levantar páreos importantes, como o Derby de Chico Corredor e a Copa ANPC Clássica de Severado.
Craque das rédeas, Goncinha concedeu entrevista, diretamente de Arcadia, na Califórnia, ao website da ABCPCC.
Qual é a rotina, atualmente, de Gonçalino Feijó de Almeida?
R.: Envolvido com cavalos de corrida. Indo ao hipódromo e exercitando animais todos os dias.
Como é o seu contato com o Brasil? Você segue acompanhando o turfe brasileiro?
R.: Sim, acompanho e mantenho contato todos os dias. Tenho conexão com vários proprietários e especialmente com Antônio Joaquim Peixoto de Castro Palhares.
Quais foram seus primeiros passos no turfe? Como tornou-se jóquei?
R.: Com meu avô Gonçalino Feijó e meus tios. Tornei-me jóquei para ajudar a minha família.
Você figura como o jóquei brasileiro mais bem sucedido nos Estados Unidos. Como tudo aconteceu, há 3 décadas, quando você transferiu-se para a América do Norte?
R.: Começou por causa de dois contratos. Vim para cá para montar os animais de Lineu de Paula Machado e de Beverly Hills Stud, que eram treinados por Pico Perdomo.
Além do desafio de se adaptar a um dos principais polos do turfe mundial, você, ao se transferir para os Estados Unidos, precisou substituir as montarias de freio pelo bridão. Como você encarou essa mudança e o que ela impactou na sua carreira de jóquei?
R.: Claro que a mudança exigiu dedicação, mas a própria situação requeria esse profissionalismo, de minha parte. Se queria aquilo, precisava adaptar-me. Para ser sincero, como já tinha tido formação e experiência com o bridão, não foi algo traumático nem difícil.
Considerando que o freio, teoricamente, garantia maior controle do jóquei sobre sua montaria, você concordaria com a afirmação de que, com a utilização do freio, os jóqueis conseguiam dar montarias melhores, mais técnicas e eficientes?
R.: Sim, concordo. Os jóqueis que montavam a freio tinham uma maior possibilidade de controlar o cavalo e consequentemente aumentavam as chances de conduzi-los à vitória.
Na história do turfe, alguns jóqueis acabaram identificados, além das vitórias obtidas, pela íntima relação com algumas fardas. No seu caso, o Goncinha é e sempre será identificado com a farda da Fazenda Mondesir. Como você descreve a sua relação e trajetória junto à família Peixoto de Castro?
R.: Agradecimento, carinho, amor, dedicação e sempre muito respeito a essa família.
Você, ao longo da carreira, teve a oportunidade de conduzir animais de campanhas históricas. Se precisasse, porém, escolher apenas um desses animais, qual seria aquele que mais te marcou?
R.: Difícil responder essa… Cada cavalo marcou uma época, em especial, da minha vida. Todos eles foram importantes e continuam sendo.
E qual foi a vitória mais marcante da sua carreira?
R.: Todas, cada uma à sua maneira, foram marcantes. Uma muito especial foi a minha primeira vitória, com o animal Relato, treinado por Jorge Borioni e de propriedade do Sr. Marcelo, do Stud Pluma. Isso foi em 1970. O Grande Prêmio Brasil de Janus, por ser o primeiro e conquistado para a família Peixoto de Castro, também carrego na memória com grande lembrança.
Entre Brasil e Estados Unidos, você trabalhou junto de outros profissionais consagrados, como outros jóqueis, treinadores e veterinários. Quais foram aqueles que mais influenciaram e te impressionaram?
R.: No Brasil, meu avô Gonçalino Feijo, Ernani de Freitas, Roberto Morgado, Roberto Morgado Junior, Paulo Morgado, Levi Ferreira, Altamir Vieira, Almiro Paim, Artur Araújo, Ruben Carrapito, Nelson Perreira Gomes, Luis Guilherme Feijó Ulloa, Nelson Pires, Oraci Cardoso, Silvio Morales, Gladston Figueiredo Santos, dentre vários outros. Já nos Estados Unidos, destacaria William Shoemaker, Charles Whittingham, Ronald McAnally, Richard Mandella, Wallace Dollase, Gary Lewis, Melvin Stute, Pico Perdomo e Richard Cross.
Em meio às vitórias e animais que compõem sua carreira, você certamente viveu e acompanhou várias histórias “de bastidores”, que apesar de não chegarem ao conhecimento do grande público, fazem parte do folclore do turfe e estão por trás de grandes craques e conquistas. Haveria alguma que você se recorda e gostaria de compartilhar?
R.: No ano de 1995, tive a oportunidade de montar no Kentucky Derby. Realizei um sonho de qualquer jóquei, ao redor do mundo. Assinei a montaria de Jumron, que era treinado por Gary Lewis. Vínhamos de fazer terceiro para Larry The Legend, no Santa Anita Derby. No Kentucky Derby, fizemos uma corrida muito boa. O Jumron entrou quarto para o Thunder Gulch, a menos de 4 corpos. Apesar da nossa euforia com a corrida, o que ninguém sabia é que o Jumron havia se lesionado. Soubemos disso pouco depois. E infelizmente ele nunca mais correu.
A América do Sul é um celeiro de grandes jóqueis, que brilham mundo afora. Qual a virtude que o jóquei sul americano – e principalmente, o brasileiro – possui, que o permite destacar-se em relação aos pilotos dos demais lugares?
R.: Eles têm talento, dedicação e profissionalismo.
Nunca antes houve uma preocupação tão grande, das entidades promotoras de corridas de cavalos, em estabelecer regras e penalidades relacionadas à utilização abusiva do chicote. Qual sua opinião sobre o tema? Você concorda, por exemplo, com normas que limitam o número de chicotas, numa corrida?
R.: Sim, concordo. Concordo porque o chicote não faz o cavalo correr mais rápido. Ele deveria ser usado mais para alertar o cavalo, para que tenha concentração na corrida.
Quais os seus planos para o futuro?
R.: Ter saúde e continuar envolvido com corridas de cavalo. Isso é o que eu mais amo.