ABCPCC entrevista: Lineu de Paula Machado (parte final)
Idiossincrasia do turfe brasileiro, o Haras São José & Expedictus atravessou gerações, acumulando admiradores e troféus. Na memória de Lineu de Paula Machado, recordações de uma história fantástica, escrita por milhares de patas e iniciada, no século XIX, pelo avô Linneo.
Na última semana foi ao ar a primeira parte da entrevista concedida por Lineu de Paula Machado ao website da ABCPCC. Neto de Linneo de Paula Machado, que por meio do Haras São José & Expedictus ajudou a construir a história do turfe brasileiro, Lineu passeou por alguns dos mais fascinantes capítulos do centenário estabelecimento e abordou outras diversas pautas relacionadas às indústria turfística.
Abaixo, a segunda – e última – parte da entrevista.
Na década de 1980, o Haras São José & Expedictus criou aquele é considerado, por muitos, o melhor PSI brasileiro de todos os tempos. Itajara marcou o turfe nacional de sobremaneira, sendo alçado à condição de ídolo. Como foi acompanhar na condição de proprietário o surgimento, o estrelato e o encerramento precoce de sua campanha?
R.: A meta de todo criador, imagino, seja criar um grande campeão. Minha família, em mais de um século, criou grandes animais. Aprendi que o grande desafio é desafiar aquele “grande anterior” e assim por diante. Uma das formas de você atingir esse objetivo, penso eu, é continuar a estudar a genética e investir nela. Ouvir, aprender, visitar aqueles que fazem a diferença, discutir com seus profissionais os caminhos e ser humilde o bastante para saber que o melhor pode ser que ainda esteja por vir. No mundo do turfe se tem notícia de poucos que acertaram mais do que erraram – e de muitos que erraram mais que acertaram. Não conheço na historia do turfe alguém que tenha somente acertado. Os desafios no cavalo de corrida são enormes. Portanto, é um grande desafio você criar um animal de excelência no pedigree, na morfologia, que corra em qualquer tipo e estado de pista. Que tenha, trabalhando, batido recordes na pista da Gávea. Que tenha vencido em distâncias de 1.100 até 3.000 metros. Que tenha sagrado-se tríplice coroado invicto. Meu tio era pouco crédulo quando dizíamos que tínhamos um cavalo que, pelos trabalhos, parecia ser um fora de serie. Quando de sua estreia, me convidou pra assistir com ele, da comissão de corridas do Jockey Club Brasileiro, àquele que “vocês falam ser um craque”. Subi na comissão de corridas e, sob um tempo absolutamente horrível, chuvoso, escutava dele “que ideia de vocês correrem um cavalo que vocês julgam ser tão bom numa distancia dessas e na areia!” O páreo estava programado para a pista de grama, mas pelas chuvas passou para a areia. Aguentei razoavelmente firme aquelas provocações de um tio querido. Na curva descontei. “E aí tio, quer descer já ou quer esperar o segundo colocado cruzar o disco?” Sua resposta foi “vamos esperar a segunda corrida na grama”. Itajara foi, tenho certeza, um dos grandes momentos de alegria e orgulho de meu tio, como criador. Nunca me disse uma palavra nesse sentido. Mas tenho certeza disso. Seus olhos não mentiam. Quando Itajara morreu, na Argentina, minha mãe estava se tratando nos Estados Unidos. Meu pai estava com ela. Minha esposa Emilia e eu seguramos, com enorme sofrimento, essa noticia. Comuniquei ao meu pai e tio somente três meses depois de sua morte. A vida tinha que seguir. O desafio também.
Falando em campanha precocemente encerrada, anos mais tarde a derby winner Coray também se despediu das pistas com 8 corridas apenas (uma a mais do que Itajara). Poderíamos considerá-la, dadas as peculiaridades comuns aos dois animais, a versão “fêmea” do Itajara na história do haras?
R.: Olha, sem querer ser repetitivo, mas levando eM conta uma criação com mais de um século elegê-la em definitivo, como a melhor, acho difícil. Pessoalmente, considero que uma comparação, para ser justa, ocorre quando os animais em questão se enfrentam. O resto é opinião, torcida, gosto etc. Das éguas criadas por minha família as melhores que vi foram Liberte, Fantasie, Plus Vite, Sea Girl, Virginie, Verinha, Be Fair, Canzone e Coray. A Helíaco “de saia” seria a Fontaine. A Itajara “de saia”, a Coray. Minha impressão era que para derrotá-la talvez um tiro bem dado de canhão... Não escolhia pista nem distância. Tinha um ótimo temperamento, trabalhava bem, era mansa para correr e podia acelerar em qualquer parte do percurso.
Além de toda a representatividade em termos de Brasil, o Haras São José & Expedictus também conquistou feitos expressivos, principalmente nos anos 90, em outros países. Siphon, Romarin e Virginie nos Estados Unidos. Seaborg, Sea Girl e Riton na Argentina. O quão marcantes foram essas experiências internacionais para você?
R.: Meu avô criou na França e na Argentina. Seguimos essa tradição, chegando a criar nos Estados Unidos. A busca da genética, dos diferentes meios ambientes e de profissionais com novos aprendizados sempre nos levou a novos desafios que muitas vezes encontramos no exterior. O nosso melhor resultado foi na Argentina, num turfe mais competitivo que o nosso. Criamos animais como Riton (recordista até hoje dos 1600 metros em San Isidro), Seaborg, Sea Girl etc. A experiência internacional serve para testar sua criação, aprender novas técnicas, trocar experiências e ter desafios novos. Minha família sempre encarou a criação como um desafio. Por isso levamos alguns animais para competir no exterior. A adaptação ao novo clima, à alimentação, ao treinamento, ao novo ritmo de corrida, às novas pistas, faz com que esse desafio torne-se mais complicado ainda. Conhecemos os dois lados da moeda. Siphon, vencedor das duas provas mais importantes Califórnia, que talvez seja o mais competitivo do turfe norte-americano, e que durante 8 meses figurou como o handicap horse melhor pontuado dos Estados Unidos, representou o lado bom da moeda. Também o foi a Virginie, a primeira égua brasileira vencedora de grupo I na grama nos Estados Unidos. Isso sem esquecer, é claro, do Romarin. Aquele momento do nosso turfe, no qual o cavalo brasileiro provou ser competitivo em qualquer parte do mundo está, infelizmente, muito longe da atual realidade. Não existe a coragem e o sentido de urgência necessário para mudanças fundamentais. Bal a Bali é um grão de areia na praia de Ipanema. Infelizmente.
Irmãs maternas, Virginie e Be Fair conquistaram, em apenas 3 anos, duas tríplices coroas para o Haras São José & Expedictus. O que isso representou para você?
R.: O John Aiscan vinha sempre ao Brasil, em agosto, quando da realização do Grande Prêmio Brasil. Meu tio o convidava para nos ajudar nas coberturas de nossas éguas. Aiscan possuía uma memória invejável e conceitos do cavalo de corrida e de trotadores espetaculares. Aprendi muito com ele e segui sempre seus conceitos na formação de um cruzamento. Esses encontros, para ele, representavam “a música que gostava de ouvir”, porque nós trazíamos todas as informações possíveis, muitas vezes até a quarta geração. Para quem gosta e entende de genética saber a produção, as qualidades do animal, as taras que transmitia etc. era como “chutar no gol sem goleiro”. Ele nos indicou a Fashion Dancer, filha de um reprodutor que foi desclassificado por doping após vencer o Kentucky Derby de 1968 (Dancer’s Image). Aquilo para mim era uma heresia. A Fashion Dancer era uma égua correta, mas absolutamente comum, da linha do craque Sir Ivor. Sua filha com Baronius, Misty Moon, era uma linda égua e muito boa corredora. Sua não continuidade nas pistas deveu-se, infelizmente, a um assunto “extra campo”. Ela é a única égua no mundo produtora de dois animais tríplices coroados: Virginie e Be Fair. A Virginie venceu dos 1.000 aos 2.400 metros e, como o Itajara, venceu a tríplice coroa invicta. Por um problema no casco que, aliás, foi também a razão do fim de sua carreira no Estados Unidos, a Virginie não correu o Derby, que foi vencido pelo Vernier. A Be Fair venceu a tríplice coroa e perdeu um Derby chorado, por cabeça. E o desafio continuava presente.
Como surgiu o Vale do Itajara?
R.: Quando eu tinha 17 anos, meus pais compraram uma casa em Itaipava. Ficava cerca de 8 km distante do Centro de Treinamento Vale da Boa Esperança, da família Cápua, precursora dos centros de treinamentos de cavalo de corrida, no Brasil. Aquele CT foi construído por um homem de visão e coragem, o engenheiro Julio Cápua. Aquele meio ambiente logo me acendeu as luzes de um lugar e clima diferenciados para treinar cavalos. Depois de 23 anos, convenci meu pai e meu tio a construírem um centro de treinamentos. Eu tinha vários argumentos a favor, mas o fator “poder ver os animais no quintal deles” sempre foi mais importante. Meu tio não me lembro de ter ido ao CT. Já meu pai foi uma ou duas vezes, no máximo. Certas coisas na vida são difíceis de mudar. Vivi isso. Eu queria competir com igualdade junto aos grandes criadores nacionais. Queria chances iguais e que no final ganhasse o melhor. Construímos o Centro de Treinamentos Vale do Itajara, inaugurado em agosto de 1996. O “modelo quintal” começou pela mudança de distância, ou seja, o “quintal” foi para longe deles. Mas, com o tempo, evoluiu para uma atividade profissional com dinâmica de uma empresa. São 300 boxes, duas pistas de areia, uma de grama, quatro caminhadores, doze piquetes e uma piscina. Desde então, 330 animais treinados no CT tornaram-se ganhadores graduados sendo 116 deles, ou seja, 35%, ganhadores de grupo I. Atualmente, a ocupação é de 66%. Essa é a mentalidade atual do turfe brasileiro. A mesma de minha família, na época, razão pela qual lutam alguns proprietários e profissionais, de todas as maneiras, para continuarem com seus animais “no quintal de suas casas”. Nos últimos 3 anos, 93% das provas de grupo no Jockey Club Brasileiro foram ganhos por animais provenientes dos centros de treinamento. Atualmente existe o mesmo número de animais alojados nos centros de treinamentos e na Gávea.
Além de grandes animais, grandes profissionais também marcaram a história do Haras São José & Expedictus. Quais nomes você destacaria, nesse rol?
R.: Falar de grandes profissionais que, certamente, ajudaram com seu conhecimento e dedicação, ao longo de mais de um século, é algo difícil. Entretanto, a criação brasileira e o haras devem muito ao veterinário belga, Dr. Otavio Dupont. Em março de 1912 meu bisavô faleceu. No mesmo dia, meu avô teve a triste noticia que Flaneur, um cavalo muito querido dele, tinha morrido de em decorrência de uma osteopatia químio distrófica (osteodistrofia), mais conhecida como “cara inchada”. Essa doença era totalmente desconhecida na América do Sul. O problema estava na relação entre cálcio e fósforo. A segunda geração do haras foi dizimada pelo desequilíbrio mineral, sobrando Bien Aimèe. Da terceira geração, a letra “C” todos morreram. Na letra “D” salvou-se Domination e finalmente na letra “E” se salvou Expedictus. Foram muitos profissionais que nos ajudaram ao longo dessa caminhada. Me lembro dos, ainda na ativa, Doutores Celso Bertolini, Fernando Garcia, Flávio Geo, Carlos Eduardo Veiga, Cristina Vieira, Paulo Borges; dos treinadores José Severino da Silva, Dulcino Guignoni, Alfredo Gaitan, Richard Mandela; dos agrônomos Francisco Spatti e Paulo Nania; do Phillipe Jousset, de Renato Gameiro, Alfredo Camogli e Ângelo Cristiano. O maior desafio da competição em alto nível do haras “antigo”, na minha opinião, aconteceu sob o gerenciamento do Beto Figueiredo, ajudado que foi por Ângelo Spatti, Paulo Nania, Paulo “Pico” Borges e Fernando Garcia. Tenho absoluta certeza que sem o profissionalismo e dedicação deles nós não criaríamos a melhor geração de animais nascidos no Haras São José & Expedictus, a geração de 1997 – a letra “C”.
Quem sabe a mais ingrata de todas as perguntas: qual foi o melhor animal criado pelo Haras São José & Expedictus? E qual animal você gostaria de ter criado?
R.: O melhor animal de nossa criação que vi correr foi o Itajara. Comparar animais que não correram juntos considero algo muito complicado. Minha família, nesses mais de 100 anos, criou animais realmente que marcaram época. Existe, no meu julgamento, uma grande diferença entre o craque e o muito bom cavalo, para ficarmos somente nessa comparação. A criação exige do criador muita crítica, muita frieza para opinar. Tenho minha opinião sobre alguns cavalos criados por minha família: Albatroz e Quati eram craques. Fontaine era uma craque. Helíaco era um craque. African Boy, muito bom cavalo, apesar de tríplice coroado. Baronius era um craque. Heron, muito bom cavalo. Grison e Orpheus eram craques. Heracleon, muito bom cavalo. Itajara era um craque. Aporé, muito bom cavalo, apesar de ganhador do GP Brasil. Virginie, Be Fair e Coray eram craques. Queen Desejada (originalmente batizada Carfou) era muito boa égua. Sea Girl, uma craque. Canzone e Verinha, muito boas éguas. Derek era um craque. Cheikh, muito bom cavalo. Fantasie era uma craque. Apple Honey era boa égua. Siphon era um craque. Romarin, muito bom cavalo. Riton era um craque. Seaborg, vencedor do GP Carlos Pellegrini (gr.I), em recorde, era muito bom cavalo. E por aí segue a lista... É muito bom sonhar com um Nearco, um Ribot, um Mill Reef e, mais recentemente, com Zarkava, Galileo, Urban Sea, Sea the Stars – o melhor animal que vi correr no exterior. Por fim, sonhos recentíssimos, como Black Caviar, Treve e Enable. Sonhos brasileiros recentes: No Regrets e Bal a Bali.
Qual foi o páreo que marcou a sua vida?
R.: A primeira corrida a que assisti na minha vida foi o Grande Prêmio Brasil de 1964. Assisti com minha avó Celina na seta dos 400 metros, pois eu “de menor”, tinha 8 anos e não podia assistir das tribunas. Tive muitas emoções que marcaram minha vida com os cavalos... Mas acho que a maior de todas foi a vitória do Derek no Latino Americano de 1983. O Eduardo Guimarães estava comigo no haras quando meu pai me telefonou dizendo que o Derek tinha se acidentado no trabalho final para o Latino. Quando chegamos na cocheira, a cena era de horror: Derek parado no centro da cocheira, com a cabeça baixa, pingando sangue de sua narina. Seu olho esquerdo praticamente fechado. O Zé Severino (treinador J. S. Silva), o Zé Martins e o Joaquim, seu cavalariço, todos cabisbaixos. O clima de tristeza era total. Demos um dia mais pro cavalo reagir. Fizemos gelo no boleto esquerdo e mais nada. No dia seguinte, além de um enorme hematoma na anca esquerda, o olho estava ainda mais fechado e o boleto tinha inchado um pouco. Por outro lado, não sangrava mais e havia comido tudo. O Derek era um cavalo de uma estrutura espetacular. O John Aiscan dizia que se tratava de um dos três indivíduos de melhor físico e constituição que ele tinha visto em vida. Drenou-se o boleto e a anca. Ele continuava comendo normalmente. Na terça-feira, o Zé Severino disse que, para correr, ele tinha que trabalhar. Como o Albênzio Barroso tinha se lesionado no acidente, foi escolhido o L. C. Silva para montá-lo. Na quarta o Zé deu-lhe um “carreirão” de 1600 metros. A cada minuto que passava, o Derek nos dizia “eu quero correr”. Tudo nele melhorava. Não dava para acreditar! No dia da corrida, ao chegar no hipódromo, com os repórteres em cima dele o tempo todo, Derek revelou-seu febril. O Zé Severino, junto com o Zé Martins, o pegaram e foram banhá-lo. Eu fui ao Tio Francisco comunicar-lhe de que o cavalo estava com febre. Quando cheguei de volta a febre tinha baixado. O cavalo correria. Derek era um cavalo com um mental, com uma atitude que só os campeões têm. O resto vocês sabem. Não conheço uma historia como essa no turfe. Minha emoção foi tão grande que no meio da reta apaguei. Ele era o forte e eu o fraco. Derek era fora de serie.
E a derrota mais sentida? O GP Brasil perdido por Baronius para Big Lark?
R.: Em qualquer esporte você tem vencedor e vencidos. O que aconteceu no Brasil de 1980 foi um desrespeito aos três primeiros colocados, ao público turfista, aos criadores e proprietários dos animais. Aos treinadores e cavalariços. O que os jóqueis fizeram naquele dia representou uma mancha que nunca se apagará na historia da maior prova do turfe brasileiro. Quando desci, ainda no corredor onde os cavalos passavam, vi o Gabriel muito nervoso, entrando na pesagem. O Waldomiro, cavalariço do Baronius, me disse “Lineu, olha o que esses bandidos fizeram com meu cavalo! Bateram na cara dele e o Gabriel disse que ele ainda foi segurado na manta”! Eu, pasmo, não acreditava naquilo. Ao olhar a cabeça do cavalo tinha duas marcas de chicote e ele estava com o olho direito fechado. Fiquei aguardando junto com o cavalo, dando como certa a desclassificação. Na raia havia uma confusão danada. A comissão de corridas não mandou nenhum veterinário examinar o cavalo. Páreo confirmado e a vergonha estampada nos jornais no dia seguinte. Um momento muito triste e vergonhoso do turfe carioca e brasileiro. Meu tio, presidente do Jockey Club Brasileiro à época, aceitou aquilo com a classe que seus pais e a vida o ensinaram. Tudo muito triste.
Dentre as inúmeras histórias vividas por você no turfe, haveria algum causo que, seja pelo humor, drama ou quaisquer outras peculiaridades, você considere interessante compartilhar com o público leitor?
R.: Acho que os relatos sobre Baronius e Derek respondem essa pergunta... Mas contarei a história de meu avô nunca ter visto um cavalo seu vencer o Grande Prêmio Brasil. Preparando–se pra correr o GP Brasil de 1942, Albatroz, então favorito da prova, teve um problema no casco. Ernani de Freitas, treinador do cavalo, relatou o ocorrido a meu avô, mas disse que aquilo não o impediria de ganhar. Meu avô respondeu que não correria o cavalo com problema. A prova era em 3.000 metros e ele corria desferrado. Ernani ainda insistiu e recebeu outro “não”. “Cavalo meu não corre se não estiver são"! Ainda disse meu avô “esperemos ano que vem que aí, quem sabe, ele poderá ganhar estando são”. Albatroz, no final, das contas não correu. Meu avô morreria naquele ano e Albatroz venceria os Grandes Prêmios Brasil de 1943, 1944 e ainda o Grande Prêmio São Paulo de 1944.
Qual é o futuro do Haras São José & Expedictus e sua opinião sobre o atual momento do turfe brasileiro?
R.: Atualmente o haras possui duas éguas. A ganhadora do GP OSAF (gr.I) e segunda colocada no GP Diana (gr.I), Helisângela, que está na Argentina. Ela tem, ao pé, uma potranca filha do Ecólogo, a quem dei o nome de Corbeille. No Brasil comprei a Flute, de criação do Haras São Jose da Serra, filha do Refuse to Bend na Tale e Quale, por Jaraar. Ela tem 8 vitorias, é filha de uma vencedora de G1 que já produziu ganhadora de G1 – That Sunday. Recebi, carinhosamente, uma cobertura do First American, do casal Álvaro e Bárbara Magalhães, do Haras Figueira do Lago. Apesar de tê-la coberto, ficou vazia. Com a morte do First American, está sendo coberta por um cavalo que gosto muito: o Jeune-Turc. Ele tem performance, físico, um ótimo e moderno pedigree e em corrida sempre mostrou coragem – algo fundamental, não só no ser humano, mas nos atletas também. Espero, na sequência, mandá-la para o Agnes Gold, razão primeira de minha aquisição. Minha visão do turfe brasileiro hoje é de um turfe velho de ideias, de desafios, de visão e de coragem. De bom nos últimos anos, a excelente pista nova de grama do Jockey Club Brasileiro, seus acessórios e também o aumento de prêmios, em valores reais, realizados pelo Presidente Luis Eduardo da Costa Carvalho; a pista de areia e seus implementos possibilitados pelo Presidente Carlos Palermo e a mudança – e modernização – do estatuto do Jockey Club de São Paulo pelo Presidente Eduardo da Rocha Azevedo. Não acredito em sucesso de empresa nenhuma se não tiver São Paulo junto... O número de animais nascidos no Brasil só cai. O óbvio vai acontecer, iremos ter dificuldades na formação de páreos. Estamos no photochart, na quarta colocação, com o Uruguai. Não utilizar nobres espaços para aumentar os prêmios é, a meu ver, um grande e antigo erro de administrações passadas. Não utilizar o peão do prado para trazer renda para as corridas de cavalo, fazer um “Baixo Jockey” muito melhor e mais bonito que o “Baixo Leblon”, que o “Baixo Gávea” não está na visão dos dirigentes. A falta de conhecimento, entendimento e coragem para um turfe decente no Brasil nos levou e ainda leva para uma situação quase irreversível. Na melhor das hipóteses, sendo reversível, levará no mínimo 5 anos para termos o devido retorno. As desculpas e as justificativas virão como sempre. É uma das características da incompetência. Quem sobrará? Não existe turfe sem prêmios, assim como não existe atividade deficitária que se sustente. Simples assim.