01 maio 2022 | 16:12:58

Nota de falecimento: Hermínio Paulo Machado


Na Milha do Bento, em 1998, venceu Guerreiro King, treinado por Hermínio Machado

Imagem: Flávio Obino Filho

O turfe gaúcho perde o seu maior treinador e eu um amigo de quase 50 anos.

Hermínio Paulo Machado nasceu há 76 anos em Vila Vasconcelos, então município de Tapes, e hoje Sentinela do Sul. Foi em São Borja, no haras de Serafim Dornelles Vargas, que iniciou a sua trajetória vitoriosa na criação do PSI e no turfe.

Conheci Hermínio como segundo gerente de Jary Motta em 1975. Jary era o treinador das potrancas argentinas compradas nos leilões de Palermo para formar o casco do Haras Capela de Santana. Em 1976 Hermínio foi contratado para ser o responsável pelo nosso haras.

Tenho histórias fantásticas desta época em que aprendi muito sobre os cavalos de corrida com o Hermínio. Acho a melhor delas um episódio em que Rolin Fan e Boina Rosa, até então invictas com seis vitórias, se enfrentariam. Estávamos no haras e tanto enchi o saco do meu pai que ele entregou a chave do fusca para o Hermínio (sem carteira de motorista e talvez estreante em uma estrada) e disse: leva. Eu com meus 11 anos. Foi uma viagem com emoção. Na altura de Canoas, em uma sinaleira, o Hermínio engatou uma marcha à ré e por pouco não provocou um grave acidente. Chegamos ao Cristal, e a Rolin Fan com Suzana Davis “up” massacrou a adversária. Retornamos ao Capela inteiros e felizes.

Depois do Capela o Hermínio foi o segundo do Odilo Machado, foi capataz do La Cibelles, voltou ao Jockey como segundo do Luiz Carlos Soares, e na metade dos anos 90 iniciou a sua carreira como treinador.

Em 98 voltei ao turfe (andei um período afastado) comprando o Guerreiro King e levei para o Hermínio, ganhamos juntos o GP Presidente da República e formei o Casablanca. Juntos empilhamos vitórias, clássicos e estatísticas de treinador e proprietários. Depois veio a segunda fase do Capela de Santana, agora na Sentinela do Sul que viu o Hermínio nascer. Foram mais vitórias, clássicos e estatísticas.

Lembro de uma frase do Roberto Campos (Stud Palura) que nunca esqueci. Na época ele comprava cavalos no Cristal e levava para a Gávea e Cidade Jardim: “Não dá para comprar cavalo treinado pelo Hermínio. Posso levar para qualquer treinador, em qualquer lugar do mundo, que eles nunca vão melhorar.”

O Hermínio deve ter chegado perto de 1.000 vitórias em um turfe com uma reunião semanal. Cerca de 500 do Casablanca. Mais de 150 clássicos com as nossas fardas, superando a marca do Breno Caldas (122) que nos parecia quase insuperável em 2005 quando traçamos juntos este objetivo.

Registro da vitória de Mucho Fon

Imagem: Flávio Obino Filho

Lembro que em duas temporadas clássicas ganhamos todos os clássicos de velocidade com Vício Sagrado, Gain’n Bright, Negro Lindo, Cacique Crocket, Starburst, New Wave e Nosso Dasher (este uma aventura como criador junto com o Sayão Lobato e o Christian Moura que deu certo). O Bento do Goicochea, o Protetora do Mucho Dinero, as tríplices coroas do Nadador Lô e do Nargis, o Diana da Oahu, os Presidentes da República com o Guerreiro King, Conde Vic, Tokay e Mucho Fon, os vinte e um recordes batidos e o Derby do Rocky Fon.

O Derby do Rocky Fon... Era um tabu. Nunca havíamos ganho. Em meio a pandemia nos focamos neste páreo. A vitória esmagadora por mais de 20 corpos. No final do ano, passados dois meses do páreo, a notícia de um medicamento proibido. Algo que não combina com essa trajetória vitoriosa. Não encontramos explicação. Veio a desclassificação, a suspensão, a decepção e o agravamento da doença. O nosso “mago” ainda teve forças para acompanhar os quatro triunfos do Sonhador Vi em quatro atuações que o colocam como líder da geração. Cavalo que mistura no nome o que nos faz persistir no turfe e na criação: nossos sonhos. Cavalo que tem o nome do meu filho Vicente que junto com o Hermínio não me deixaram parar quando as decepções me levavam a jogar a toalha.

Tenho que agora acordar o Vicente e dizer que temos que nos despedir do Hermínio. Não vai ser fácil. Vai ser difícil não ter o Hermínio daqui para frente. O maior profissional do turfe das últimas décadas no Rio Grande do Sul. Meu muito obrigado “bixo”.

Flávio Obino Filho

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